Deus revelou-me os seus segredos de modo especial e deu-me a conhecer coisas admiráveis. […] Deus explicou-me sobretudo o mistério da perseguição que a Santa Igreja sofre atualmente, e a sua renovação, a sua exaltação nos tempos vindouros. Para me fazer compreender que as circunstâncias em que a Igreja se encontra são permitidas para lhe devolver todo o seu esplendor, a Verdade Suprema citou-me duas palavras que estão no santo Evangelho: «É inevitável que venham os escândalos»; e Nosso Senhor acrescentou: «contudo, ai do homem por meio do qual o escândalo vem!» (Mt 18,7). Como se dissesse: permito este tempo de perseguição para arrancar os espinhos de que a minha Esposa está rodeada, mas não permito os pensamentos pecaminosos dos homens. Sabeis o que estou a fazer? Estou a fazer como fiz quando estava no mundo: fiz um chicote de cordas e expulsei os que compravam e vendiam no Templo, pois não queria que a casa de meu Pai se tornasse um covil de ladrões. Digo-vos que estou a fazer o mesmo agora. Estou a fazer das criaturas um flagelo e, com esse flagelo, estou a expulsar os mercadores impuros, gananciosos, avarentos e orgulhosos que vendem e compram os dons do Espírito Santo. De facto, com o chicote da perseguição das criaturas, Nosso Senhor expulsou-as e, à força da tribulação, arrancou-as da sua vida vergonhosa e desregrada. […] Do mal feito pelos maus cristãos em perseguição à Esposa de Cristo deverá nascer a honra, a luz e o perfume da virtude para essa Esposa. E isto era tão doce que me parecia não haver comparação entre a ofensa e a infinita bondade que Deus testemunhava com a sua Esposa. Então rejubilei, saltei de alegria, e vi tão claramente este tempo futuro que me pareceu possuí-lo já, e saboreá-lo. […] Havia ali mistérios tão grandes que a língua não os pode dizer, o coração não os pode compreender e os olhos não os podem ver.
Santa Catarina de Sena (1347-1380) terceira dominicana, doutora da Igreja, copadroeira da Europa – Carta 33 a Fr. R. de Cápua, n. 74