Com toda a propriedade se conclui o Símbolo da nossa fé com as palavras: «E na vida eterna. Amen»; porque a vida eterna é o fim de todos os nossos desejos.
A vida eterna consiste primariamente na união do homem com Deus. Na verdade o próprio Deus é o prémio e o fim de todos os nossos trabalhos: Eu sou o teu escudo e a tua suma recompensa. Esta união consiste na visão perfeita: Vemos agora como num espelho, de maneira confusa; então veremos face a face.
A vida eterna consiste também no supremo louvor, como diz o Profeta: Ali haverá felicidade e alegria, acções de graças e cânticos de louvor.
Consiste ainda na perfeita satisfação dos nossos desejos, pois o que os bem‑aventurados terão ali, supera tudo o que desejavam e esperavam. A razão disto é que, na vida presente, ninguém pode satisfazer plenamente os seus desejos, porque nenhuma coisa criada pode saciar o desejo do homem. Só Deus pode saciá‑lo, e saciá‑lo infinitamente. Por isso o homem não pode descansar senão em Deus, como diz Agostinho: «Criastes‑nos para Vós, Senhor, e o nosso coração está inquieto enquanto não descansa em Vós».
Os santos, na pátria celeste, possuirão a Deus de modo perfeito; terão a plenitude de todos os seus desejos e a sua glória será superior a tudo o que esperavam. Por isso diz o Senhor: Entra na alegria do teu Senhor. Agostinho, por sua vez, comenta: «Não será a alegria que entrará totalmente nos bem‑aventurados, mas os bem‑aventurados que entrarão totalmente na alegria. Serei saciado quando aparecer a vossa glória»; e também: Ele saciará plenamente os teus desejos.
Tudo o que é agradável se encontra ali de modo superabundante. Se se desejam delícias, ali se encontra a delícia suprema e perfeitíssima, porque vem de Deus, o sumo Bem: Delícias eternas à vossa direita.
A vida eterna consiste finalmente na ditosa comunhão de todos os bem‑aventurados, comunhão sumamente agradável, porque cada um terá todos os bens com todos os outros bem‑aventurados. Cada um amará os outros como a si mesmo e por isso se alegrará com o bem dos outros como seu próprio bem. E assim, será tanto maior a alegria e felicidade de cada um quanto maior for a felicidade de todos.
Das Conferências de São Tomás de Aquino, presbítero (Coll. super Credo in Deum: Opuscula theologica 2, Taurini 1954, pp. 216-217) (Sec. XIII)