No dia da Imaculada Conceição da Santíssima Virgem, resolvi abandonar-me de tal modo em Deus, que está sempre em mim e em quem estou e vivo, que não haja na minha conduta, não só exterior, mas também interior, nada que me perturbe, mas repouse suavemente nos seus braços, sem temer tentação nem ilusão, prosperidade ou adversidade, nem as minhas más inclinações, nem sequer as minhas faltas, mas esperando que Ele tudo dirija com a sua infinita bondade e sabedoria, de modo que tudo se realize para sua glória; sem querer ser amado nem sustentado por ninguém, mas querendo tê-lo por meu pai e minha mãe, meus irmãos e meus amigos, e tudo o que pudesse ter sentimentos de ternura por mim. Parece-me que se está bem em tal refúgio seguro e suave, e que não tenho de temer os homens, nem os demónios, nem a mim próprio, nem a vida, nem a morte. Desde que Deus me sustente em tudo isso, sinto-me feliz e parece-me que descobri o segredo de viver contente, e que doravante nada do que temia na vida espiritual terá de me assustar.
São Cláudio de la Colombière (1641-1682) jesuíta – Diário espiritual