São Rafael Arnaiz Barón (1911-1938) monge trapista espanhol – Escritos espirituais, 06/01/1937
Adoração dos reis: os poderosos deste mundo prostram-se diante do humilde berço de uma criança. Ouro, incenso e mirra vindos do Oriente; ansiedade nos corações, poeira dos caminhos percorridos durante a noite, guiados por uma estrela. «Onde está o rei dos judeus, que acaba de nascer?» […] Passaram vinte séculos e muitas almas percorrem os caminhos da terra, como os reis magos do Oriente, e continuam a perguntar ao passar: «Vistes aquele que a minha alma ama?» (Ct 3,3). É também uma estrela de luz que, iluminando o nosso caminho, nos conduz à humildade de uma manjedoura e nos mostra o que nos fez sair «das muralhas da cidade» (Hb 13,13; cf Lc 16,27): mostra-nos um Deus que, sendo embora Senhor de tudo, carece de tudo. O Criador da luz e do calor do sol sofre de frio; aquele que vem ao mundo por amor aos homens é esquecido pelos homens. Tal como outrora, também agora há almas que procuram a Deus. […] Infelizmente, nem todos conseguem encontrá-lo, nem todos olham para a estrela que é a fé, nem ousam aventurar-se pelos caminhos que conduzem a Ele, que são a humildade, a renúncia, o sacrifício e quase sempre a cruz. […] Quando esta noite, no coro, me recordava sem querer da minha infância, da minha casa, dos reis, o meu hábito de monge dizia-me outra coisa: tal como os magos, também eu vim à procura de uma manjedoura. Já não sou uma criança a quem se dão brinquedos: os sonhos são agora maiores e não pertencem a esta vida. Os sonhos do mundo, tal como os brinquedos das crianças, dão felicidade enquanto esperamos por eles, mas depois tudo não passa de cartão. Os sonhos do Céu são sonhos que duram toda a vida e depois não desiludem. Como os reis magos devem ter regressado felizes depois de terem visto Deus! Também eu O verei, só tenho de esperar um pouco. A manhã chegará em breve e, com ela, a luz. Que despertar feliz será esse!