São João Crisóstomo (c. 345-407) presbítero de Antioquia, bispo de Constantinopla, doutor da Igreja – Homilia 25 sobre São Mateus, 1-2; PG 57, 328-330
«Quando Ele desceu do monte, seguiram-no numerosas multidões. E eis que um leproso, aproximando-se, ajoelhou-se diante dele, dizendo: “Senhor, se quiseres, podes purificar-me”» (Mt 8,1-2). Grande era a discrição e a fé daquele que assim se aproximou: teve o cuidado de não interromper o ensinamento de Jesus, não atravessou a multidão que O escutava; mas esperou o momento certo e aproximou-se do Senhor quando Ele já tinha descido do monte. Não se dirige a Ele de forma banal, mas com grande fervor, caindo de joelhos, como diz outro evangelista, com uma fé profunda e uma ideia exata de Cristo; pois não Lhe disse: «se pedires a Deus» ou: «se rezares», mas «se quiseres, podes purificar-me». Nem disse: «Senhor, purifica-me», mas confiou-se inteiramente a Ele, tornando-O senhor da sua cura e testemunhando a sua omnipotência. E Jesus não respondeu: «Fica purificado», mas: «Quero: fica purificado» (Mt 8,3). Com estas palavras, quis reforçar em todo o povo e no leproso a convicção do seu poder; por isso disse: «quero». […] Se, para o purificar, Lhe bastava querer e falar, por que razão lhe tocou Jesus com a mão? Parece-me que não a razão era mostrar que não estava sob a Lei, mas acima dela, e que não se tornaria impuro ao contacto com a lepra; pelo contrário, o corpo do leproso foi purificado por esta mão santíssima. Cristo não veio apenas curar os corpos, mas elevar as almas à santidade e ensinar-nos que a única lepra que devemos temer é a do pecado.