Jean Tauler (c. 1300-1361) dominicano de Estrasburgo – Meditação sobre a Paixão
Vinde, vós todos que amais a Deus; vede o que Nosso Senhor fez por vós. Vinde, vós todos que fostes resgatados pelo sangue puríssimo do Cordeiro inocente; vede e compreendei o que Ele sofreu por causa do nosso pecado. Hoje, abre-se para nós o Livro da Vida, os sete selos são quebrados (cf Ap 6). A verdade resplandece, nela se manifestam os tesouros da sabedoria e da ciência (cf Rom 11,33); brota a fonte que contém os mistérios de Deus. Hoje, rompe-se o véu antigo (cf Mt 27,51), todas as aparências dão lugar à realidade. O Santo dos Santos abre-se de par em par, graças a Jesus, o Sumo Sacerdote (cf Heb 2,17). O sacrifício que Ele oferece é o seu próprio sangue. Hoje, em Jesus Cristo, é revelado o sentido de todos os símbolos, são descobertos todos os mistérios. Hoje, abre-se o tesouro imenso do pai de família do qual fruirão plenamente todos os pobres, todos os fracos, todos os oprimidos. Cada um pode beber nas chagas do Senhor a graça de que mais necessita. […] Hoje, manifestou-se acima de todas as coisas o admirável mistério: o Rei dos homens faz-Se rebotalho da humanidade; o Altíssimo faz-Se o último de todos; o Filho único de Deus oferece-Se livremente à cruz por nós, pobres pecadores. Ele quer pregar o pecado na cruz, matar a morte e, pelo seu sangue precioso, destruir a nota da dívida onde estão registadas as nossas faltas (cf Col 2,14). […] Não foi Ele que disse: «Quando Eu for elevado, atrairei tudo a Mim» (Jo 12,32)? Tudo, quer dizer todos os homens, em quem tudo se reúne. Há muitos homens que encontram a cruz; entre muitas tribulações, Deus leva-os a essa cruz, para os atrair a Si. Então, eles carregam de bom grado a sua própria cruz e tornam-se verdadeiros amigos de Deus.