Jonas, figura de Cristo

São Jerónimo (347-420) presbítero, tradutor da Bíblia, doutor da Igreja – Sobre Jonas II, 2, 5, 6, 11

Se Jonas é figura do Senhor, por evocar, com a sua passagem de três dias e três noites pelas entranhas do cetáceo, a Paixão do Salvador, a sua oração também deve ser uma expressão da oração do Senhor. «Fui rejeitado diante dos teus olhos. Mas ainda verei o teu santo templo» (Jn 2,5). Quando estava contigo, gozando da tua luz, não dizia: «Fui rejeitado». Mas, quando me encontrei no fundo do mar, envolvido na carne de um homem, assumi sentimentos de homem e disse: «Fui rejeitado diante dos teus olhos». Disse-o enquanto homem; e o que vem a seguir disse-o como Deus, Eu que, sendo da tua condição, não Me vali da minha igualdade contigo (cf Fil 2,6), porque queria elevar a Ti o género humano: «Mas verei ainda o teu santo templo». Assim, diz o texto do evangelho: «Pai, manifesta a minha glória junto de Ti, aquela glória que Eu tinha junto de Ti antes de o mundo existir» (Jo 17,5); e o Pai responde: «Já a manifestei e voltarei a manifestá-la!» (Jo 12,28). O único e mesmo Senhor pede enquanto homem, promete enquanto Deus e está seguro da glória que foi sempre sua. «As águas me cercaram até ao pes­coço, o abismo me envolveu» (Jn 2,6). Que o inferno não Me aprisione! Que não Me recuse a saída! Desci livremente, que livremente Me eleve. Voluntariamente vim como cativo para libertar os cativos, a fim de que se cumpra este versículo: «Tu subiste às alturas e levaste contigo prisioneiros» (Sl 68,19; Ef 4,8). Com efeito, Ele conquistou para a vida aqueles que eram cativos da morte.

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