O mistério pascal une na mesma fé os que estão corporalmente distantes

Das Cartas pascais de Santo Atanásio, bispo
(Ep. 5, 1-2: PG 26, 1379-1380) (Sec. IV)

   Vede, meus irmãos, como é admirável passar de uma festa para outra festa, de uma oração para outra oração, de uma solenidade para outra solenidade. Aproxima-se agora o tempo que nos traz e dá a conhecer um novo início, o dia da santa Páscoa, em que o Senhor foi imolado. Do seu alimento nos
sustentamos como de um manjar de vida, e a nossa alma se delicia com o sangue precioso de Cristo como numa fonte; e, todavia, sempre temos sede desse sangue, sempre o desejamos ardentemente. Mas o nosso Salvador está perto dos que têm sede e, na sua grande benevolência, convida todos os corações sedentos para o grande dia da festa: Se alguém tem sede, venha a Mim e beba.
   Sempre que d’Ele nos aproximamos para beber, Ele nos mata a sede; e sempre que pedimos, podemos aproximar-nos d’Ele. O fruto espiritual desta celebração festiva não se limita apenas a um tempo determinado, nem a sua luz esplendorosa conhece ocaso, mas está sempre pronta para iluminar as almas daqueles que O procuram. Continuamente exerce a sua influência sobre todos aqueles que têm a alma já iluminada e dia e noite meditam a Sagrada Escritura. Estes são como aquele homem que o salmo proclama bem-aventurado, quando diz: Bem-aventurado o homem que não segue o conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se junta com os maldizentes; antes se compraz na lei do Senhor e nela medita dia e noite.
   Portanto, irmãos caríssimos, aquele mesmo Deus que desde o princípio instituiu para nós esta festa, nos concede a graça de a podermos celebrar cada ano; Ele que para nossa salvação entregou à morte o seu próprio Filho, pelo mesmo motivo nos proporciona o dom desta santa solenidade que não tem igual em todo o curso do ano. Esta festa nos sustenta no meio das aflições do mundo; por ela nos concede Deus a alegria da salvação e da fraternidade, reunindo-nos a todos espiritualmente na mesma assembleia festiva e na mesma comunidade de oração e acção de graças. Pela admirável bondade de Deus, reúnem-se para celebrar esta solenidade os que estão longe, e sentem-se unidos na mesma fé os que estão corporalmente distantes.

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