São Gregório Magno (c. 540-604) papa, doutor da Igreja – Livro XI, SC 212
«Se ele destruir, ninguém poderá construir; se ele fechar, ninguém poderá abrir» (Jb 12,14). Deus Todo-Poderoso destrói o coração do homem quando o abandona e constrói-o quando o enche. Deus não destrói a alma do homem lutando, mas retirando-Se: entregue a si mesma, a alma está perdida. Por isso, quando, em castigo pelos seus pecados, a graça de Deus omnipotente não enche o coração de um ouvinte, é em vão que o pregador tenta instruí-lo do exterior, pois toda a boca que fala é muda se Aquele que inspira as palavras que ressoam não gritar no fundo do coração. E não deve espantar-nos que um coração réprobo não ouça o pregador, quando o próprio Senhor, quando fala, encontra por vezes a resistência de uma existência perversa […]. Job acrescenta, e com razão: «Se ele prender alguém, ninguém lhe abrirá a porta». Quando um homem se comporta mal, constrói para si próprio uma prisão na sua consciência, de modo que o seu coração o acusa, mesmo que de fora não lhe venha nenhuma acusação. Porque, quando a justiça de Deus o abandona à cegueira da sua maldade, o homem fica como que fechado dentro de si mesmo, sem encontrar um meio de fuga que não merece encontrar. Com efeito, é frequente vermos pessoas que desejam escapar à perversidade dos seus atos, mas que, por estarem ao mesmo tempo esmagadas sob o peso desses atos, fechadas numa prisão de hábitos culposos, não conseguem fugir de si próprias.