Olhar para Cristo com o olhar do Pai
Beato Columba Marmion (1858-1923) abade
Ex fide vivit
Acreditar é participar no conhecimento que Deus tem de Si próprio e de todas as coisas que nele existem. Através do exercício desta virtude, a nossa vida é como um reflexo da sua vida. Quando a alma está cheia de fé, vê, por assim dizer, com os olhos de Deus. E o que contempla o Pai eternamente? O seu Filho, no qual tudo conhece e tudo ama. Este olhar e este amor são-Lhe essenciais. Neste momento, o que vê Ele? O Verbo, seu igual, que Se fez homem por amor. O Pai aprecia o seu Filho infinitamente, divinamente, como só Ele pode apreciá-lo; por isso, o Filho é inteiramente seu e tudo o que faz é ordenado à sua glória: «Já O glorifiquei e tornarei a glorificá-lo». Ele quer que o Filho seja reconhecido pelas criaturas racionais com a reverência devida à sua divindade. Quando O introduziu neste mundo, quis que todos os anjos O adorassem (cf Heb 1,6) e exige a mesma homenagem aos homens. O Pai quer «que todos honrem o Filho, como honram o Pai» (Jo 5,23) e, no Monte Tabor, exigiu que acreditassem nas palavras de Jesus, porque eram as palavras do seu Filho bem-amado(cf Mt 17,5). Se olharmos para Cristo com o olhar do Pai, o valor que atribuiremos à dignidade da sua pessoa, à extensão dos seus méritos, ao poder da sua graça, será ilimitado. Por muito grandes que sejam as nossas faltas e a nossa pobreza, possuímos em Cristo um suplemento inesgotável de misericórdia. Na nossa miséria, somos ricos em Cristo (cf 1Cor 1, 5). A superabundância dos méritos de Deus é, para a Igreja que os possui, uma fonte inesgotável de gratidão, de louvor, de paz e de alegria indescritível.