São Gregório Magno (c. 540-604) papa, doutor da Igreja
Livro XIV, SC 212
Ouço falar da ressurreição e interrogo-me sobre o futuro dessa ressurreição. Com efeito, creio que estou destinado a ressuscitar, mas quero que me digam que tipo de ser serei. Preciso de saber se ressuscitarei noutro corpo, talvez subtil, isto é, aéreo, ou no corpo em que morrerei. Mas, se ressuscitar num corpo aéreo, já não serei eu a ressuscitar. Como pode haver verdadeira ressurreição se a minha carne não pode ser verdadeira carne? A razão sugere-nos claramente que, se não houver verdadeira carne, não haverá, obviamente, verdadeira ressurreição. Não, não temos o direito de falar de ressurreição enquanto aquilo que sucumbiu não ressuscitar. Pois bem, Job bendito, dissipa o nevoeiro da nossa dúvida e, uma vez que, pela graça que te veio do Espírito Santo, começaste a falar-nos da esperança da ressurreição, mostra-nos claramente se é a nossa carne que vai realmente ressuscitar. O texto diz: «Voltarei a revestir-me da minha pele» (Jb 19,26). A expressão «a minha pele» elimina qualquer dúvida sobre o facto de se tratar de uma verdadeira ressurreição, pois mostra que, […] na glória da ressurreição, o nosso corpo não será impalpável, mais subtil que o vento e o ar. Na glória da ressurreição, o nosso corpo será, sem dúvida, subtil, devido à manifestação do seu poder espiritual, mas será palpável, pela verdade da sua natureza. Por isso, o nosso Redentor mostrou as mãos e o lado aos seus discípulos, que duvidavam da sua ressurreição, e propôs-lhes que Lhe tocassem os ossos e a carne: «Tocai-Me e vede: um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que Eu tenho».