A união natural dos fiéis em Deus pela incarnação do Verbo e pelo sacramento da Eucaristia

Do Tratado de Santo Hilário, bispo, sobre a Trindade
(Liv. 8, 13-16: PL 10, 246-249) (Sec. IV)

   Se é verdade que o Verbo Se fez carne e que na ceia do Senhor recebemos o Verbo feito carne, como se poderá negar que permaneça naturalmente em nós Aquele que, ao nascer como homem, não só assumiu a natureza da nossa carne como coisa inseparável de Si, mas também uniu a sua natureza huma- na à sua natureza eterna no sacramento em que nos dá a comunhão do seu Corpo? Deste modo, todos somos um só, porque o Pai está em Cristo e Cristo está em nós. Ele está, portanto, em nós pela sua Carne e nós estamos n’Ele, já que, por Ele, o que nós somos está em Deus.
   Em que medida estamos n’Ele pelo sacramento da comunhão da Carne e do Sangue, Cristo o afirma ao dizer: Este mundo já não Me vê; mas vós Me vereis, porque Eu vivo e vós vivereis, porque Eu estou no meu Pai e vós em Mim e Eu em vós. Se com estas palavras Ele pretendia significar apenas uma unidade de vontade, porque estabeleceu o Senhor uma certa gradação e ordem na realização de tal unidade? Fê-lo para que acreditássemos que Ele está no Pai pela natureza divina e que nós estamos n’Ele pelo seu nascimento corporal e que, além disso, Ele está também em nós pelo mistério do sacramento. Assim nos é ensinada a unidade perfeita, estabelecida por meio do único Mediador: nós permanecemos em união com Cristo, que é inseparável do Pai; e Ele, sendo inseparável do Pai, permanece em união connosco. Assim temos acesso à unidade com o Pai. Porque, se Cristo está conaturalmente no Pai pelo nascimento, e se nós estamos conaturalmente em Cristo, então também nós estamos conaturalmente no Pai.
   Até que ponto esta unidade é natural em nós, o mesmo Senhor o declara: Quem come a minha Carne e bebe o meu Sangue, permanece em Mim e Eu nele. Com efeito, ninguém poderá estar em Cristo, se Cristo não estiver nele; isto é, Cristo somente assume em Si a carne daquele que receber a sua.
   Já antes o Senhor tinha ensinado o mistério desta unidade perfeita ao dizer: Como o Pai, que vive, Me enviou e Eu vivo pelo Pai, assim também o que come a minha Carne viverá por Mim. Vive, portanto, pelo Pai, e, do mesmo modo que Ele vive pelo Pai, assim vivemos também nós pela sua Carne.
   Toda a comparação deve ser adequada à inteligência, de tal modo que o exemplo proposto nos ajude a compreender o mistério de que se trata. Esta é, portanto, a fonte da nossa vida: Cristo, pela sua Carne, habita em nós, seres carnais, para que nós vivamos por Ele como Ele vive pelo Pai.

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