Muitas veredas, um só caminho

Da Carta de São Clemente I, papa, aos Coríntios
(Cap. 36, 1-2.37-38: Funk 1, 145-149) (Sec. I)

   Este é o caminho, caríssimos, em que encontramos a nossa salvação, Jesus Cristo, o pontífice das nossas oblações, o defensor e protector da nossa debilidade.
   Por Ele se voltam os nossos olhos para as alturas dos Céus; por Ele contemplamos, como num espelho, o rosto puríssimo e sublime de Deus; por Ele se abrem os olhos do nosso coração; por Ele a nossa inteligência, insensata e obscurecida, desabrocha para a luz; por Ele quis o Senhor fazer-nos saborear a ciência imortal, Ele que, sendo o esplendor da majestade de Deus, está tanto acima dos Anjos quanto mais eminente que o deles é o nome que recebeu em herança.
   Militemos, portanto, irmãos, com todas as nossas forças, sob as suas ordens irrepreensíveis. Ponhamos os olhos nesses soldados que combatem às ordens dos nossos comandantes. Quanta disciplina, quanta obediência, quanta submissão em executar o que se ordena! Não são todos prefeitos, ou chefes de mil, cem, cinquenta ou menos soldados ainda; mas cada um, na sua ordem e posto, cumpre as ordens do imperador e dos comandantes. Os grandes não podem passar sem os pequenos, nem os pequenos sem os grandes. Na colaboração recíproca está toda a vantagem.
   Sirva-nos de exemplo o nosso corpo. A cabeça nada vale sem os pés, nem os pés sem a cabeça. Os membros do nosso corpo, ainda os mais insignificantes, são necessários e úteis ao corpo inteiro; mais ainda, cada um contribui, em perfeita subordinação, para salvar todo o corpo. Asseguremos, portanto, a salvação de todo o corpo que formamos em Cristo Jesus e cada um se submeta ao seu próximo segundo o dom de graça que lhe foi concedido.
   O forte proteja o fraco e o fraco respeite o forte; o rico seja generoso para com o pobre e o pobre louve a Deus por lhe ter proporcionado alguém que o auxilie na pobreza. O sábio manifeste a sua ciência não por palavras mas por boas obras; o humilde não dê testemunho de si mesmo, mas deixe isso ao cuidado dos outros. O que é casto de corpo não se vanglorie, sabendo que é de Deus que lhe vem o dom da continência.
   Consideremos, pois, irmãos, de que matéria fomos feitos, quem éramos e em que condições entrámos no mundo, de que túmulo e trevas nos fez sair Aquele que nos plasmou e criou, para nos introduzir no mundo que Lhe pertence, onde nos tinha preparado tantos benefícios ainda antes de termos nascido.
   Sabendo, portanto, que tudo isto recebemos de Deus, por tudo Lhe devemos dar graças. A Ele a glória pelos séculos dos séculos. Amen.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima