Santa Gertrudes de Helfta (1256-1301)monja beneditina
«O arauto», Livro III, SC 143
Numa sexta-feira, estando o dia já no seu ocaso, Gertrudes, contemplando a imagem do crucifixo e comovida com essa visão, disse ao Senhor: «Ó meu dulcíssimo Amante, quanto sofreste pela minha salvação neste dia, que eu, na minha total infidelidade, desperdicei, gastando-o em muitas ocupações, e esquecendo-me de recordar ao longo do dia com fervor, ó minha eterna Salvação, que Tu sofreste por mim em todas as suas horas, e que Tu, a Vida de onde provém toda a vida, morreste por amor do meu amor». Do alto da cruz, o Senhor respondeu-lhe: «Tudo o que te esqueceste de fazer, fi-lo Eu por ti, recolhendo no meu coração a cada hora tudo o que deverias ter formado no teu, e essa acumulação dilatou de tal modo o meu coração que com grande desejo esperei o momento em que Me viria esta tua oração; posso finalmente oferecer a Deus meu Pai tudo o que fiz por ti durante o dia; pois sem esta oração nada disto poderia servir para a tua salvação». Isto mostra o que é o amor fidelíssimo de Deus pelos homens […]. Noutra ocasião, tendo na mão […] a imagem de Cristo crucificado, compreendeu que o Senhor olha com misericórdia tão benévola quem contempla com a atenção da piedade a imagem da cruz de Cristo que a alma, qual espelho límpido, recebe em si, por efeito do amor divino, esta imagem toda deleitável que alegra a corte celeste; e terá a eterna glória futura.