São João Crisóstomo (c. 345-407)presbítero de Antioquia, bispo de Constantinopla, doutor da Igreja
Homilia «À partida para o exílio»
Numerosas são as vagas e brame a tempestade, mas não tememos ser submersos: permanecemos firmes sobre a rocha. Mesmo que o mar se enfureça, não quebrará a rocha; mesmo que as vagas se levantem, não podem engolir a barca de Jesus. Dizei-me: que podemos nós temer? A morte? «Para mim, viver é Cristo, e morrer, um ganho» (Fil 1,21). O exílio? «Ao Senhor pertence a terra e o que ela contém» (Sl 23,1). A confiscação dos bens? «Nada trouxemos ao mundo e dele nada podemos levar» (1Tim 6,7). Pouco me importa o que é temível neste mundo; rio-me dos seus bens. Não temo a pobreza, não desejo a riqueza. Não tenho medo da morte. […] O Senhor é o meu garante. Fiar-me-ei nas minhas forças? Tenho o seu testamento, esse é o meu ponto de apoio, a minha segurança, o meu porto tranquilo. Ainda que todo o Universo seja abalado, eu tenho este testamento e releio-o: ele é a minha fortaleza, a minha segurança. Qual é o seu conteúdo? «Eis que Eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos tempos» (Mt 28,20). Jesus Cristo está comigo, a quem temerei? Assaltem-me as vagas e a cólera dos grandes: nada disso vale, sequer, uma teia de aranha.