Santo Agostinho (354-430)bispo de Hipona (norte de África), doutor da Igreja
Sermão 155, 6
Considerai, meus irmãos, o grande mistério da harmonia e da diferença entre as duas leis e os dois povos. O povo antigo não celebrava a Páscoa em plena luz, mas na «sombra do que estava para vir» (cf Col 2,17); cinquenta dias depois da celebração da Páscoa […], Deus deu-lhe a Lei escrita por sua mão no Monte Sinai. […] Deus desceu ao Monte Sinai no meio do fogo, enchendo de pavor o povo, que se mantinha a distância, e escreveu a Lei com o seu dedo, sobre a pedra e não no coração (Ex 31,18). Pelo contrário, quando o Espírito Santo desceu à terra, os discípulos estavam todos juntos no mesmo lugar e, em vez de os assustar do alto da montanha, Ele «encheu toda a casa onde se encontravam» (At 2,1ss). Houve realmente, vindo do alto do céu, um barulho parecido com o de um vento violento que se aproximava, mas esse ruído não assustou ninguém. Ouvistes o ruído, vede também o fogo; porque, na montanha, também se evidenciaram estes dois fenómenos: o ruído e fogo. No Monte Sinai, o fogo estava cercado de fumo; aqui, pelo contrário, é de uma claridade luminosa: diz a Escritura que era «uma espécie de línguas de fogo que se iam dividindo». Este fogo causou medo? Nem um pouco: «e pousou uma sobre cada um deles». […] Escutai esta língua que fala, e compreendei que é o Espírito que escreve, não sobre a pedra, mas no coração. Portanto, a lei do Espírito de vida, escrita no coração e não na pedra, esta lei do Espírito de vida que está em Jesus Cristo, em quem a Páscoa foi celebrada em toda a verdade (1Cor 5, 7), «libertou-te da lei do pecado e da morte» (Rom 8,2).