«Eis o meu servo»

Orígenes (c. 185-253)presbítero, teólogo
Comentário do Evangelho de João 32, 4; PG 14, 741-752

No decurso de uma refeição, Jesus levantou-Se da mesa e despojou-Se das suas vestes, tomando a aparência de escravo, como demonstram estas palavras: «tomando uma toalha, atou-a à cintura», para não ficar completamente nu e para limpar os pés dos discípulos com as suas vestes. Vede a que ponto se baixa a grandeza e a glória do Verbo feito carne: para lavar os pés dos seus discípulos, «deitou água na bacia» (Jo 13,2-5). «Abraão ergueu os olhos e viu três homens de pé na sua frente. Imediatamente correu da entrada da tenda ao seu encontro, prostrou-se por terra e disse: “Meu Senhor, se mereci o teu favor, peço-te que não passes adiante sem parar em casa do teu servo”» (Gn 18,2-3). Contudo, Abraão não deita pessoalmente a água nem se dispõe a lavar os pés dos estrangeiros que chegaram a sua casa, mas diz: «Permiti que se traga um pouco de água para vos lavar os pés; e descansai debaixo desta árvore». Nem José trouxe água para lavar os pés aos seus onze irmãos: foi o seu intendente que os mandou entrar em casa e seguidamente «deram-lhes água para lavarem os pés» (Gn 43,24). Mas Aquele que declarou que «o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir» (Mt 20,28), e que disse de pleno direito: «aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração» (Mt 11,29), deitou pessoalmente água na bacia, pois sabia que só Ele podia lavar os pés aos discípulos de forma que essa purificação lhes permitisse tomar parte com Ele. A água era uma palavra capaz de lavar os pés aos discípulos, quando eles se aproximassem da bacia ali colocada para eles por Jesus.

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