São Cirilo de Alexandria, Bispo e Doutor da Igreja
Comentário ao evangelho de São Lucas, 22
Como podia o homem, inexoravelmente preso à terra e submetido à morte, ter de novo acesso à imortalidade ? Era preciso que a sua carne se tornasse participante da força vivificadora que é Deus. Ora, a força vivificadora de Deus nosso Pai é a sua Palavra, é o Filho Único; foi Ele que Deus nos enviou como Salvador e Redentor. […]
Se deitares um pedacinho de pão em azeite, água ou vinho, impregnar-se-á das propriedades destes. Se o ferro estiver em contacto com o fogo, será tomado pela energia deste e, ainda que de facto o ferro seja por natureza ferro somente, tornar-se-á semelhante ao fogo. Do mesmo modo, portanto, o Verbo vivificador de Deus, ao unir-Se à carne de que Se apropriou, tornou-a vivificadora.
Com efeito, Ele disse: « Quem acredita tem a vida eterna. Eu sou o pão da vida». E ainda: «Eu sou o pão vivo que desceu do Céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que Eu hei de dar é a minha carne […]. Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes mesmo a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós». Assim, pois, ao comermos a carne de Cristo, Salvador de todos nós, e ao bebermos o seu sangue, temos em nós a vida, tornamo-nos um com Ele, e Ele permanece em nós.
Ele tinha de vir até nós da maneira que convém a Deus, pelo Espírito Santo, e de integrar-Se de alguma forma nos nossos corpos, pela sua santa carne e pelo seu precioso sangue que, em benção vivificadora, recebemos no pão e no vinho. De facto […], Deus usou de condescendência para com a nossa fragilidade e pôs toda a força da sua vida nos elementos do pão e do vinho, que deste modo estão dotados da energia da sua própria vida. Não hesiteis pois em crer, já que o próprio Senhor disse claramente: «Isto é o meu corpo» e «Isto é o meu sangue».