Santo Agostinho (354-430)bispo de Hipona (norte de África), doutor da Igreja
Sermão 62
Na leitura do Evangelho, ouvimos Jesus louvar a nossa fé, associada à humildade. Quando prometeu ir a casa do centurião curar-lhe o servo, este respondeu: «Não mereço que entres em minha casa […]. Mas diz uma palavra e o meu servo será curado». Ao considerar-se indigno, revela-se digno – digno de que Cristo entre não só em sua casa, mas também no seu coração. […] Pois não teria sido para ele grande alegria se o Senhor Jesus tivesse entrado em sua casa sem entrar no seu coração. Com efeito, Cristo, Mestre de humildade pelo seu exemplo e pelas suas palavras, sentou-Se à mesa em casa de um fariseu orgulhoso chamado Simão (cf Lc 7,36ss); mas, embora Se sentasse à sua mesa, não entrou no seu coração: aí, «o Filho do Homem não tinha onde reclinar a cabeça» (Lc 9,58). Pelo contrário, não entra em casa do centurião, mas entra no seu coração. […] Por conseguinte, é a fé, unida à humildade, que o Senhor elogia neste centurião. Quando ele diz: «Não mereço que entres em minha casa», o Senhor comenta: «Digo-vos que nem mesmo em Israel encontrei tão grande fé». […] O Senhor veio ao povo de Israel segundo a carne, para procurar primeiramente neste povo a sua ovelha perdida (cf Lc 15,4). […] Nós, como homens, não podemos medir a fé dos homens. Mas Aquele que vê o fundo dos corações, Aquele a quem ninguém engana, testemunhou como era o coração deste homem; e, ao ouvir as suas palavras repletas de humildade, respondeu-lhe com uma palavra que cura.