Santo Agostinho, Bispo e Doutor da Igreja
Discursos sobre os salmos, Salmo 49, §23
Alguém que ouvira o versículo «Oferece a Deus um sacrifício de louvor» (Sl 49,14), pensou: «Todos os dias, ao acordar, irei à igreja e entoarei o hino da manhã; ao final do dia, entoarei o hino da noite; e depois, em minha casa, um terceiro e um quarto hinos. Deste modo, farei todos os dias um sacrifício de louvor que oferecerei ao meu Deus». Fazer isto é bom, mas não te deixe descansado; vê que, enquanto a tua língua fala bem perante Deus, a tua vida não fale mal à sua frente. […] Toma cuidado e não vivas mal enquanto falas bem.
Porquê? Porque Deus disse ao pecador: «Como recitas os meus mandamentos e tens a minha aliança na boca [, tu que rejeitas as minhas palavras]?» (v. 16-17) Eis o temor com que devemos falar. […] Vós, meus irmãos, estais em segurança: se ouvirdes dizer coisas boas, é Deus que ouvis, qualquer que seja a boca que fala convosco. Mas Deus não quis deixar de repreender aqueles que falam, com receio de que adormeçam tranquilos numa vida desordenada, afirmando que falam do bem e pensando: «Deus não quererá condenar-nos, pois foi através de nós que quis dizer coisas tão boas ao seu povo». Portanto, vós que falais, quem quer que sejais, escutai o que dizeis; vós que quereis ser ouvidos, ouvi-vos primeiro. […] Possa eu ser o primeiro a ouvir, possa eu ouvir, e ouvir melhor do que todos, «aquilo que o Senhor Deus diz em mim, pois Ele diz palavras de paz ao seu povo» (Sl 84,9).