Santo Agostinho (354-430)bispo de Hipona (norte de África), doutor da Igreja
Sermão 103
As palavras de Jesus Cristo Nosso Senhor que lemos no Evangelho recordam-nos que há uma unidade misteriosa para a qual devemos tender enquanto nos afadigamos no seio da multiplicidade deste mundo. Ora, tendemos para ela enquanto caminhamos e antes de descansarmos, enquanto estamos a caminho e ainda não chegámos à pátria, no tempo do desejo que não é ainda o dia do gozo. Tendamos para ela, mas tendamos sem cobardia e sem interrupção, para que possamos finalmente alcançá-la. […] Marta estava ocupada com muitos cuidados, preparando uma refeição para o Salvador; Maria, sua irmã, que preferia ser alimentada por Ele, deixou a Marta as muitas ocupações de serviço e foi sentar-se aos pés do Senhor, escutando a sua palavra em silêncio. Dócil e fiel, tinha ouvido estas palavras: «Para e vê que Eu sou o Senhor» (Sl 45,11) Assim, uma das duas irmãs estava inquieta e a outra estava à mesa; uma preparava muitas coisas e a outra só pensava numa coisa […]. O que foi que o Senhor disse a Marta? «Maria escolheu a melhor parte»; a tua não é má, mas a dela é melhor. E porquê melhor? Porque «não lhe será tirada». Um dia, este fardo imposto pelas necessidades dos outros ser-te-á tirado; mas as delícias da verdade são eternas. Assim, a escolha que ela fez não lhe será tirada; não lhe será tirada, mas acrescentada; será acrescentada nesta vida, será acrescentada na outra, e ela nunca se separará dela.