São Gregório Magno (c. 540-604)papa, doutor da Igreja
«Morais sobre Jacob», Livro XI, SC 212
É uma prova de sabedoria referir «Aquele que transforma os lábios dos que dizem a verdade e rouba aos velhos a sua ciência» (Job 12,20 Vg). […] Estas palavras podem ser aplicadas mais diretamente aos judeus, que, antes da encarnação do Senhor, diziam a verdade, porque acreditavam na sua vinda e a anunciavam, mas que, no dia em que Ele apareceu na sua carne, declararam: não é Ele. Assim, os lábios daqueles que diziam a verdade foram transformados, pois tinham dito que Ele viria e depois declararam: Ele não está aqui. E a ciência foi roubada aos velhos, pois não seguiram, na sua crença, as previsões que a sua memória guardava de seus pais. É também isto que explica a promessa divina de que, na vinda de Elias, Ele voltará o coração dos filhos para os pais (cf Ml 3,23-24), de modo que a ciência, retirada do coração dos judeus, volte a eles pela misericórdia do Senhor no dia em que os filhos começarem a compreender o que os pais anunciaram sobre o Senhor. Mas, se por velhos entendermos também os judeus, que, levados por uma fé desviada, se opuseram à palavra da Verdade, a ciência foi roubada aos velhos desde o dia em que foi recebida pela Igreja, menina vinda dos gentios, que diz pela boca do salmista: «Tenho mais entendimento que os anciãos» (Sl 118,100). Com efeito, é por ter aprendido a ciência através da prática que ela pode mostrar que compreendeu mais do que os antigos, acrescentando imediatamente estas palavras: «Porque tenho cumprido as tuas instruções»; sim, foi o seu zelo em pôr em prática o que tinha aprendido que lhe permitiu compreender o que tinha a ensinar.