Todos os Santos

Santoral

Todos os Santos – do banal ao sublime

O fascínio pelo sublime leva o artista, o ensaísta, o filósofo, o santo e tantos outros, a uma busca persistente de algo mais para além da banalidade do já conhecido, vivido, experimentado. O caminho de busca, pode ser escarpado, desgastante, complexo e até com momento de frustração, mas guarda o segredo do verdadeiro divertimento. A esperança de encontrar, faz do tempo de busca um tempo de alegria, de modo que, buscar é já encontrar, caminhar é já chegar, subir é já horizonte.

O banal está ao alcance de todos e não exige esforço. O sublime está bem alto e é necessário buscá-lo incansavelmente e sem rendição. Onde menos se espera surge o sublime que extasia e torna válida toda a busca realizada. O que é que me diverte? O Banal ou o sublime?

LEITURA I Ap 7, 2-4.9-14

Eu, João, vi um Anjo que subia do Nascente, trazendo o selo do Deus vivo. Ele clamou em alta voz aos quatro Anjos a quem foi dado o poder de causar dano à terra e ao mar: «Não causeis dano à terra, nem ao mar, nem às árvores, até que tenhamos marcado na fronte os servos do nosso Deus». E ouvi o número dos que foram marcados: cento e quarenta e quatro mil, de todas as tribos dos filhos de Israel. Depois disto, vi uma multidão imensa, que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas. Estavam de pé, diante do trono e na presença do Cordeiro, vestidos com túnicas brancas e de palmas na mão. E clamavam em alta voz: «A salvação ao nosso Deus, que está sentado no trono, e ao Cordeiro». Todos os Anjos formavam círculo em volta do trono, dos Anciãos e dos quatro Seres Vivos. Prostraram-se diante do trono, de rosto por terra, e adoraram a Deus, dizendo: «Amen! A bênção e a glória, a sabedoria e a ação de graças, a honra, o poder e a força ao nosso Deus, pelos séculos dos séculos. Amen!». Um dos Anciãos tomou a palavra e disse-me: «Esses que estão vestidos de túnicas brancas, quem são e de onde vieram?». Eu respondi-lhe: «Meu Senhor, vós é que o sabeis». Ele disse-me: «São os que vieram da grande tribulação, os que lavaram as túnicas e as branquearam no sangue do Cordeiro».

A visão dos que passaram pela grande tribulação e lavaram as túnicas no sangue do Cordeiro e dos 144 mil que foram marcados na fronte, desperta em nós a coragem de atravessar a vida dando o melhor de nós mesmos como pessoas de fé, porque na casa do Pai há mesmo lugar para nós.

Salmo 23 (24), 1-2.3-4ab.5-6 (R. cf. 6)

O salmo recorda que somos “a geração dos que procuram o Senhor”. Ele é o Senhor de toda a terra e em todas as coisas percebemos a sua presença. Seremos sempre demasiado pequenos para entrar no santuário e ir à presença do Senhor, mas podemos sempre purificar o coração e as mãos de todas as ações e intenções que desfiguram a veste própria para o encontro com ele.

LEITURA II 1 Jo 3, 1-3

Caríssimos: Vede que admirável amor o Pai nos consagrou em nos chamar filhos de Deus. E somo-lo de facto. Se o mundo não nos conhece, é porque não O conheceu a Ele. Caríssimos, agora somos filhos de Deus e ainda não se manifestou o que havemos de ser. Mas sabemos que, na altura em que se manifestar, seremos semelhantes a Deus, porque O veremos tal como Ele é. Todo aquele que tem n’Ele esta esperança purifica-se a si mesmo, para ser puro, como Ele é puro.

O amor de Deus por nós manifestado em Cristo é razão suficiente para todo o esforço de purificação que nos é pedido, pois, como filhos, queremos ser semelhantes Deus.

EVANGELHO Mt 5, 1-12

Naquele tempo, ao ver as multidões, Jesus subiu ao monte e sentou-Se. Rodearam-n’O os discípulos e Ele começou a ensiná-los, dizendo: «Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos Céus. Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. Bem-aventurados os humildes, porque possuirão a terra. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus. Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça, porque deles é o reino dos Céus. Bem-aventurados sereis, quando, por minha causa, vos insultarem, vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós. Alegrai-vos e exultai, porque é grande nos Céus a vossa recompensa».

As bem-aventuranças são um caminho de perfeição que Jesus ensina aos seus discípulos para eles alcançarem a felicidade. Nem todos querem seguir por este caminho que implica renúncia e desprendimento, dedicação e compromisso social com os mais desfavorecidos e com as causas mais difíceis que podem atrair a incompreensão e a perseguição.

Reflexão da Palavra

O último livro da Bíblia, pouco conhecido do comum das pessoas, não é fácil de ler e interpretar, devido ao estilo apocalítico. Escrito pelo evangelista João, pretende apresentar uma interpretação do sentido e fim da história à luz de Jesus. O texto da primeira leitura é antecedido pela visão dos quatro anjos, colocados nos quatro pontos cardeais, que seguram os quatro ventos para que não soprem sobre a terra. Prender o vento significa que se vive um intervalo onde não há destruição, porque o vento quando sopra com força destrói, mas também significa que podem reter o ar e impedir a respiração ao que resta da criação.

Depois ouve-se a voz do anjo do oriente que ordena aos quatro anjos que respeitem a vida e não provoquem a destruição, “não causeis dano à terra, nem ao mar, nem às árvores”. Até quando? “até que tenhamos marcado na fronte os servos do nosso Deus”. Portanto, só depois de serem marcados todos os que foram eleitos e que, apesar das ameaças, permaneceram fiéis. São particularmente os mártires. Estes permitem que continuem a viver os que os perseguem, graças à sua fidelidade. Pode ler-se a este propósito Jeremias capítulo 9.

Estes são 144 mil, um número simbólico com fundamento nas 12 tribos de Israel. São marcados 12 000 de cada tribo (Ap 7,5-8). Todos são marcados com o selo, homens e mulheres que dão testemunho de Jesus, enfrentando a morte se necessário. Também os adoradores da Besta são marcados na mão e na fronte “a todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e escravos, marcou-os com um sinal na mão direita e na fronte” (Ap 13,16).

Da luta entre os “servos do Senhor” e os “adoradores da Besta”, saem vitoriosos os servos do Senhor que vêm de todas as tribos e línguas, não apenas de Israel, e são introduzidos na liturgia celeste, colocando-se “diante do trono e na presença do Cordeiro”. A vitória, cantada pelos que foram salvos, deve-se ao “nosso Deus que está sentado no trono e ao Cordeiro”.

Entra em cena, então, um ancião com uma pergunta para a qual João não tem resposta. Por isso o ancião dá a resposta afirmando que, todos os que constituem aquela multidão vieram da “grande tribulação” e “lavram as túnicas no sangue do Cordeiro” e podem entrar na vida para cantar o cântico novo, que diz “a bênção e a glória, a sabedoria e a ação de graças, a honra, o poder e a força ao nosso Deus”.

O salmo 23 é um hino de louvor usado muito provavelmente nas celebrações do templo. Na sua composição podemos perceber três partes. O sacerdote começa por aclamar o Senhor pelo seu poder criador e pelo seu senhorio sobre todas as coisas; na segunda parte, levanta-se uma voz que pergunta quem pode aproximar-se do Senhor de toda a terra e entrar no seu santuário. A resposta dada pelo sacerdote invoca a pureza de coração como condição para entrar no santuário do Senhor. Finalmente, a conclusão anuncia a bênção para quem tem um coração puro juntamento com a decisão de todo o povo reconhecendo-se como “a geração dos que O procuram” e estão decididos a purificar o coração.

João faz a grande afirmação da experiência cristã, somos filhos de Deus nascido do seu amor “vede que admirável amor o Pai nos consagrou em nos chamar filhos de Deus”. Esta verdade não é compreendida por todos. João reconhece que muitos, a que ele chama “mundo”, não são capazes de reconhecer esta filiação, porque não conhecem a Deus. Mas aqueles que o reconhecem, sabem que a experiência filial é apenas o início do que seremos quando virmos Deus face a face. Então, “seremos semelhantes a Deus”. Esta certeza, que é esperança, motiva o cristão a “ser puro, como Deus é puro”.

Mateus recria a cena onde decorre o célebre sermão da montanha que vai ocupar os capítulos cinco, seis e sete do seu evangelho. Jesus sobe ao monte, lugar da manifestação de Deus, como em Ex 19, 16 quando Moisés subiu ao Sinai. Depois, Jesus senta-se como mestre reconhecido por todos pela autoridade com que fala e, por isso, vêm de longe para o escutar (Mt 4,25). O sermão da montanha não é uma nova lei, mas um programa de vida para os que querem seguir Jesus como discípulos. Embora o auditório esteja formado pelos discípulos e por numerosa multidão, o conteúdo do sermão dirige-se em primeiro lugar aos discípulos. No entanto, a multidão também se entusiasma com as palavras de Jesus (Mt 7,28-29).

O corpo do evangelho desta solenidade é constituído pelas nove bem-aventuranças (5,3-10). As primeiras oito estão construídas a partir de uma estrutura simples que começa com a proclamação de “bem-aventurados”, a indicação dos beneficiários e a conclusão, “porque”, indicando o motivo, sendo que a primeira e a oitava terminam do mesmo modo “porque deles é o Reino dos Céus” e referem-se ao presente enquanto as demais se remetem ao futuro.

Relativamente à nona Bem-aventurança é importante referir que tem uma construção diferente. Jesus retoma o tema da oitava, a perseguição, desenvolve-o explicando os motivos que a provocam e explica que os seus discípulos encontram aí motivo de alegria e não de desânimo ou tristeza.

Os pobres (aqueles que por si mesmos não consegue resolver as questões mais importantes da sua vida) têm o privilégio da primeira bem-aventurança. É o único grupo de pessoas citado em particular. Jesus veio anunciar a Boa Nova aos pobres, por isso, eles têm o primeiro lugar no seu ministério, são a sua primeira preocupação. As outras bem-aventuranças têm como destinatários todos os homens, independentemente da sua situação social, económica, política ou religiosa.

Os que choram, da segunda bem-aventurança, são todos os que, perante a realidade, sentem que ainda não está em curso a realização da promessa de Deus ao seu povo. Para esses Deus e só Deus, realizará a sua esperança.

Os humildes, cujo significado se aproxima muitos dos pobres, são os que têm por herança a terra. Estes são os que, podendo ser ricos, se desprendem de tudo, dos bens e do poder, e vivem confiados apenas em Deus. É curioso que Jesus se identifica precisamente com os humildes “aprendei de mim que sou manso e humilde de coração” (Mt 11,29).

Os que “têm fome e sede de justiça” são os que procuram o centro do evangelho, fazer a vontade de Deus. O próprio Jesus diz de si mesmo e recorda a João Batista “convém que cumpramos assim toda a justiça” (Mt 3,15). A justiça, que é um atributo de Deus, significa também misericórdia. Portanto, os que procuram a justiça são os que se identificam com Deus, procuram fazer a sua vontade e usam de misericórdia para com todos. A estes Jesus promete que um dia verão o mundo onde reina a justiça. Será quando todos se renderem à vontade de Deus e viverem uns com os outros com sentimentos de misericórdia.

Estes, que vivem sentimentos de misericórdia, de acordo com a quinta bem-aventurança, não são apenas pessoas de bons sentimentos, são pessoas ativas e dinâmicas em relação aos outros. Atuam de acordo com a misericórdia, compaixão, bondade e amor, como Deus, preocupados com a salvação de todos, prontos a prestar auxílio aos que necessitam e sobretudo dispostos ao perdão.

A pureza de coração é a condição, víamos no salmo 23 e na primeira carta de João, para entrar no santuário e ir ao encontro do Senhor. A relação com Deus constrói-se a partir deste requisito. Estes, os puros de coração, “verão a Deus”.

A desarmonia provocada pelo pecado afastou para longe a paz do paraíso perdido. A promessa de Deus, porém, prevê que a chegada do Messias será o regresso do paraíso, da paz desejada. “Pedi a paz para Jerusalém… haja paz dentro dos teus muros” (Sl 122). Os pacificadores são os que pedem a paz, os que restabelecem as relações entre as pessoas e os que trabalham pela união entre judeus e pagãos, os que se esforçam pela reconciliação e os que trabalham pela promoção dos povos. Jesus é o grande reconciliador da humanidade. Estes, como Jesus, são filhos de Deus.

A oitava bem-aventurança declara bem-aventurados os que sofrem perseguição. E diz que a razão da perseguição é a justiça, por quererem o que Deus quer. São como os profetas e como Jesus que, sentiram de forma permanente a vida ameaçada por causa da sua adesão à causa de Deus.

A razão da perseguição aos discípulos de Jesus é o próprio Jesus. Terem-se alistado no grupo dos seguidores do mestre atraiu para eles a perseguição. O leitor do evangelho de Mateus percebe que aderir a Jesus é perigoso. Aderir a Jesus, assumir o desejo de fazer a vontade de Deus, lutar pela reconciliação entre os homens e dos homens com Deus, perdoar e promover o perdão, desprender-se dos bens deste mundo, assumir uma atitude humilde e chorar com os que choram é perigoso, atrai a incompreensão que leva à perseguição. O discípulo, porém, deve alegrar-se “porque é grande nos Céus a vossa recompensa”.

Meditação da Palavra

No dia em que a Igreja celebra a solenidade de todos os santos ressoa um convite a subir ao templo do Senhor, colocar-se diante do trono do Cordeiro e prostrar-se de rosto por terra para o adorar. Este convite questiona-nos: “Quem poderá subir à montanha do Senhor? Quem habitará no seu santuário?

O evangelista João diz, na primeira leitura tirada do livro do Apocalipse, que é possível entrar no templo e ir à presença do Cordeiro, porque o Senhor, o “Deus vivo”, impede os anjos dos quatro ventos de provocar dano à terra, e marca na fronte com o seu selo aqueles que lhe pertencem, “os servos do nosso Deus”, e diz quantos são “cento e quarenta e quatro mil, de todas as tribos dos filhos de Israel”. É um número perfeito que indica a totalidade dos que, sendo israelitas por nascimento se converteram ao cordeiro tornando-se cristãos. Mas também podem subir à presença de Deus todos “os que lavaram as túnicas e as branquearam no sangue do Cordeiro”, depois de terem passado pela “grande tribulação”, ou seja, “uma multidão imensa, que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas”.

Quem pode, então, entrar no santuário do Senhor e permanecer na sua presença? “O que tem as mãos inocentes e o coração puro, o que não invocou o seu nome em vão”, diz o salmo 23, “os que lavaram as túnicas e as branquearam no sangue do Cordeiro”, diz o livro do Apocalípse e “todo aquele que tem n’Ele, (no Pai) esta esperança purifica-se a si mesmo, para ser puro, como Ele é puro” diz João na primeira carta.

É possível, e o caminho está aberto a todos, porque “o Pai nos consagrou” no seu amor e agora somos filhos e seremos ainda mais, diz João na segunda leitura, quando se manifestar “o que havemos de serEntão, “seremos semelhantes a Deus, porque O veremos tal como Ele é”. É esta certeza que nos leva a exercer todo o esforço para chegar à pureza necessária e permanecermos diante de Deus “tal como ele é”.

Entrar no santuário do “Deus vivo” é possível para a todos os que “procuram a face de Deus”. Estes encontram nas bem-aventuranças um programa que os leva ao reino dos céus, como filhos de Deus e herdeiros da terra. O programa de Jesus propõe a pobreza livre e a opção pelo cuidado aos pobres que o são por imposição, como caminho para o reino dos céus. Valoriza os que choram e os que enxugam as lágrimas, os humildes porque põem a sua confiança unicamente em Deus e os famintos de justiça que desejam fazer sempre a vontade de Deus, os misericordiosos porque aprendem de Deus a compaixão e a bondade, sempre preocupados com a salvação de todos, prontos a prestar auxílio aos que necessitam e sobretudo dispostos ao perdão. Os que não têm maldade no coração e se purificam continuamente tornam-se lugares de paz, herdeiros do reino, filhos de Deus que o podem contemplar. Estes são os bem-aventurados, os felizes que podem entrar no santuário do Deus vivo. Estes, como diz o salmo 23, serão “abençoados pelo Senhor e recompensados por Deus, seu Salvador”. Estes podemos ser nós, se procurarmos a face de Deus, purificarmos as mãos e o coração, se, animados pela esperança que vem do amor com que Deus nos consagrou, lavarmos as nossas vestes no sangue do Cordeiro sem medo da tribulação em que vivemos por estarmos no mundo. Estes são todos os que se experimentam amados e por isso procuram aquele que os ama.

Rezar a Palavra

Vinde, exultemos de alegria no Senhor, aclamemos a Deus, nosso Salvador. Vamos à sua presença e dêmos graças, ao som de cânticos aclamemos o Senhor. Grande Deus é o Senhor, Rei maior que todos os deuses. Em sua mão estão as profundezas da terra e pertencem-Lhe os cimos das montanhas.  D’Ele é o mar, foi Ele quem o fez, d’Ele é a terra firme, que suas mãos formaram. Vinde, prostremo-nos em terra, adoremos o Senhor que nos criou. Ele é o nosso Deus e nós o seu povo, ovelhas do seu rebanho. (Sl 94).

Compromisso semanal

Prostro-me diante do Senhor em adoração.

Referência: aliturgia.com

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