Bento XVI, papa de 2005 a 2013
Angelus de 26/12/2006 (trad. © Libreria Editrice Vaticana, rev)
No dia seguinte à solenidade do Natal, celebramos a festa de Santo Estêvão, diácono e primeiro mártir. À primeira vista, a proximidade […] com o nascimento do Redentor pode surpreender-nos, pelo impressionante contraste entre a paz e a alegria de Belém e o drama de Estêvão. […] Na realidade, o aparente desacordo é superado se considerarmos mais profundamente o mistério do Natal. O Menino Jesus, deitado na gruta, é o Filho único de Deus, que Se fez homem. Ele salvará a humanidade morrendo na cruz. Agora, vemo-lo envolvido em panos no presépio; depois da sua crucifixão, será novamente envolvido por faixas e colocado no sepulcro. Não é por acaso que alguma iconografia natalícia representa o divino Menino num pequeno sarcófago, a indicar que o Redentor nasce para morrer, nasce para dar a vida em resgate por todos (cf Mc 10,45). Santo Estêvão foi o primeiro que seguiu os passos de Cristo com o martírio; morreu, como o divino Mestre, perdoando e rezando pelos seus algozes (cf At 7,60). Nos primeiros quatro séculos do cristianismo, todos os santos venerados pela Igreja eram mártires. Trata-se de uma multidão inumerável, a que a liturgia chama «o cândido exército dos mártires». […] A sua morte não incutia receio nem tristeza, mas entusiasmo espiritual, que suscitava sempre novos cristãos. Para os crentes, o dia da morte, e ainda mais o dia do martírio, não é o fim de tudo, mas a «passagem» para a vida imortal, o dia do nascimento definitivo, em latim «dies natalis». Compreende-se então o vínculo que existe entre o «dies natalis» de Cristo e o «dies natalis» de Santo Estêvão. Se Jesus não tivesse nascido na Terra, os homens não teriam podido nascer no Céu. Precisamente porque Cristo nasceu, nós podemos «renascer»!