Quando desmontar o presépio de Natal?

Equipe Christo Nihil Præponere

Acontece todo ano: vem a Epifania e todo o mundo começa a desmontar as decorações de Natal. Os Magos são quase como aqueles convidados de última hora, que recebemos muito a contragosto e que já queremos mandar embora o quanto antes…

Acontece todos os anos: vem o Dia de Reis e todo o mundo começa a desmontar as decorações de Natal. Presépio, árvore, guirlanda… tudo é guardado de novo. O pressuposto é de que, com a festa da Epifania do Senhor, cessam as comemorações natalinas. Os Magos, então, são quase como aqueles convidados de última hora, que recebemos muito a contragosto e que já queremos mandar embora o quanto antes… 

“Podem voltar pra casa, senhores, a festa já acabou”.

“A jornada dos Magos”, por James Tissot.

Brincadeira à parte, precisamos retomar o espírito verdadeiramente cristão das festas litúrgicas. E ele consiste nisto: preparar-se com muita oração e penitência para celebrar os santos mistérios, mas, depois, intensificar o máximo possível a sua comemoração.

É exatamente o que se dá na Páscoa do Senhor. Preparamo-nos para a maior solenidade do ano litúrgico com quarenta dias de jejum e mortificação: a Quaresma. Depois, no entanto, segue-se não um dia, tampouco uma oitava, mas cinquenta dias de tempo pascal — até Pentecostes. 50 > 40.

Por que deveria ser diferente com o Natal? 

O Advento é breve. O máximo a que pode chegar, quando começa a 27 de novembro, é exatamente 4 semanas (28 dias), não mais do que isso. Então deveríamos continuar a falar do Natal — e, quem sabe, até manter dentro de nossas casas os enfeites natalinos todos — por pelo menos um mês, ou talvez… uns quarenta dias. Assim: 40 > 28. Por que não? 

E se eu lhe dissesse que era justamente isto o que nos ensinava o antigo calendário litúrgico da Igreja?

Sim, isso mesmo! Até alguns anos atrás, os domingos posteriores à Epifania não inauguravam o “Tempo Comum”, mas os domingos “depois da Epifania”. Havia uma continuidade entre a festa de Reis e os dias que lhe seguiam. Até que, no dia 2 de fevereiro, festa da Apresentação do Senhor, a Igreja prescrevia aos fiéis que mudassem a antífona rezada a Nossa Senhora no Ofício Divino: em vez da Alma Redemptoris Mater (“Ó Mãe do Redentor”, na nossa tradução litúrgica), tomava-se a Ave, Regina Cælorum (“Ave, Rainha do Céu”), antífona própria da Quaresma e da Páscoa. Era uma espécie de reconhecimento tácito de que o ciclo do Natal só se encerra com a festa da Apresentação (ou Candelária) no início de fevereiro.

E não era para menos. A Apresentação de Jesus no Templo, de acordo com o que prescrevia a antiga Lei de Moisés, tem tudo a ver com o Tempo do Natal: aconteceu quarenta dias após o nascimento de Cristo e é narrada por São Lucas logo após a circuncisão de Jesus (cf. Lc 2, 22-39).

O Pe. Edward McNamara, LC, professor de Liturgia e Teologia Sacramental, também lembra o seguinte

Em alguns países, não é incomum manter algumas decorações natalinas até a festa da Apresentação do Senhor, em 2 de fevereiro. O Papa São João Paulo II fazia sua última visita ao presépio na Praça de São Pedro depois de celebrar a Missa vespertina do dia 2 de fevereiro. Após esta visita, o presépio era desmontado. É um costume de longa data que se desfaçam as decorações de Natal na vigília da Candelária, especialmente aquelas constituídas por plantas. Esta tradição é atestada pelo poeta Robert Herrick (1654), em dois de seus poemas, um deles intitulado Candlemas Eve Ceremony [“Cerimônia da Vigília da Candelária”] […]. 

Se tudo isto é verdade — você pode estar se perguntando —, por que é que começamos a desmontar os presépios e demais enfeites de Natal cada vez mais cedo? 

O Papai Noel da Coca-Cola, grande símbolo do Natal comercial.

A resposta talvez deva ser encontrada no Natal comercial. Hoje em dia, ao invés de preparar-se para a Noite Santa com um Advento regrado e penitente — como orienta a Santa Mãe Igreja —, movidas pelo frenesi do consumismo, as pessoas começam as extravagâncias já nos primeiros dias de dezembro (ou antes mesmo, na Black Friday): compras, comidas, bebidas, reuniões festivas etc. etc. Então, é claro, no entardecer do dia 6 de janeiro, depois de tanto auê, a sensação é de que “já está passando da hora” de “arrumar” a casa, trocar as vitrines das lojas, “limpar” as ruas daquele excesso de luzes e enfeites… Em suma: como as quatro semanas de Advento foram passadas na esbórnia, ficamos insensíveis à festa de verdade.

Isto não quer dizer que devamos “transferir a farra” de dezembro para janeiro… Nada disso. O Natal não acaba em 25 de dezembro, mas é preciso saber comemorar também, com alegria verdadeiramente cristã, não pagã. Para isso, as decorações de Natal, sobretudo o presépio, ajudam-nos muito a ter diante dos olhos o grande mistério de Deus que se fez homem: nascido em palhas, num estábulo, entre os bichos, o próprio Filho de Deus veio salvar a mim e aos meus; o seu próprio povo o rejeitou, não o acolheu, e por isso um anjo chamou humildes pastores para contemplá-lo, e uma estrela no Céu convocou astrólogos para vir de longe adorá-lo… Por que não deixar montado por mais tempo, em minha casa, este cenário tão belo no qual nos veio, há pouco mais de dois mil anos, o Salvador do mundo?

Concretamente, isto significa o seguinte: se possível, deixemos os nossos presépios montados um pouco mais. Senão até o dia 2 de fevereiro, pelo menos até a festa do Batismo do Senhor, que é quando finda oficialmente o Tempo do Natal (em nossa liturgia reformada). — Atualmente, esta festa é móvel no calendário: celebra-se ou no domingo seguinte à Epifania, ou na segunda-feira depois dela, quando esta é transferida para o dia 7 ou 8 de janeiro. Em 2025, será celebrada no dia 12 de janeiro.

Entendam-nos bem os leitores: nada disto constitui uma norma certa, rígida e inflexível. Até porque não existe uma bula papal ou um decreto vaticano estabelecendo quando, exatamente, devem ser desfeitos os presépios de Natal. Na prática, cada família é livre para fazer e desfazer quando quiser seus enfeites natalinos, de acordo com as devoções particulares e circunstâncias de cada lar. O clichê é verdadeiro, mas vale lembrar: importante mesmo é que Deus nasça em nossos corações, e que jamais se desfaça a tenda que aí Ele armou.

“A Adoração dos Magos”, por Gentile da Fabriano.

Mas que é uma pena ver os presépios encaixotados em pleno Dia de Reis, ou logo depois dele, isto é… Voltando à brincadeira com que começamos o texto, deixemos ao menos que os Magos entreguem seus presentes ao Menino e ponham-se conosco à mesa de jantar; deixemo-los desfrutar da “alegria muito grande” que sentiram (Mt 2, 10); deixemos que pelo menos durmam e sonhem, para mudar a rota de volta ao Oriente. A viagem deles é longa e eles precisam repor as energias.

Via: padrepauloricardo.org

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