«Amarás o Senhor, teu Deus, […] e o teu próximo como a ti mesmo»

[Santa Catarina ouviu Deus dizer-lhe:] Quero que saibas que não há virtude nem culpa que não se exerça através do próximo. Quem permanece na inimizade comigo causa dano ao seu próximo e a si próprio, o seu principal próximo, e prejudica-o, tanto em geral como em particular. Em geral, porque tendes a obrigação de amar o vosso próximo como a vós mesmos, e esse amor obriga-vos a assisti-lo pela oração, pela palavra, pelo conselho e a prestar-lhe todo o auxílio espiritual ou temporal, segundo as suas necessidades. E, se não puderdes fazê-lo, por não terdes meios para tal, deveis pelo menos ter o desejo de o fazer. Mas, se não Me amais, também não amais o vosso próximo; e, não o amando, não o ajudais e por isso prestais um mau serviço a vós próprios, privando-vos da minha graça, ao mesmo tempo que frustrais o próximo, não lhe proporcionando as orações e os desejos piedosos que deveríeis oferecer-Me por ele. A ajuda dada ao próximo deve proceder do amor que tendes por ele, por minha causa. Do mesmo modo, pode dizer-se que não há vício que não afete o próximo; pois, se não Me amardes, não podereis estar na caridade que lhe deveis. Todos os males provêm do facto de a alma estar privada de caridade para comigo e para com o próximo: não podendo fazer o bem, faz o mal. E contra quem faz o mal? Primeiro, contra si própria e depois contra o próximo. Não é a Mim que fazeis mal, porque o mal não Me atinge a não ser na medida em que considero como feito a Mim o que é feito ao próximo.

Santa Catarina de Sena (1347-1380) terceira dominicana, doutora da Igreja, copadroeira da Europa

O dom da discrição ou discernimento espiritual, cap. V, n.º 6

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