São Gregório Magno (c. 540-604) papa, doutor da Igreja
«Moral sobre Jacob», Livro XI, SC 212
Job viu os acontecimentos que se seguiriam presentes naquele para quem não existe futuro nem passado, naquele que tem todos os acontecimentos simultaneamente presentes diante dos seus olhos. Tendo visto o que ia acontecer no futuro, quer em atos quer em palavras, afirmou: «Os meus olhos viram todas essas coisas e meus ouvidos ouviram-nas»; e, como as coisas ouvidas de nada servem se não forem compreendidas, acrescentou: «e entenderam-nas» (Job 13,1). De facto, quando nos é dado conhecer um acontecimento, seja pela visão, seja pela audição, se não houver compreensão, não há profecia. O faraó viu em sonhos o que ia acontecer ao Egito (cf Gn 41), mas, porque não compreendeu o que viu, não era profeta. O rei Baltazar viu os dedos de uma mão escreverem na parede (cf Dn 5), mas não era profeta porque não compreendeu o que tinha visto. É, pois, para testemunhar que traz em si o espírito de profecia que o bem-aventurado Job afirma que viu tudo, ouviu tudo e compreendeu tudo. Mas tal compreensão não o tornou orgulhoso.