Apresentação do Senhor

Ano C, Santoral

O Anjo da Aliança entrou no seu templo

Como a flore da amendoeira anuncia a primavera e os rebentos das figueiras dizem que o verão está a chegar; como no céu se inscreve a chuva e o calor, como a noite anuncia à outra noite que o sol se levanta cada dia, o coração fala do Senhor, do rei da glória, do Anjo da Aliança que vem.

LEITURA I Ml 3, 1-4

Assim fala o Senhor Deus:
«Vou enviar o meu mensageiro,
para preparar o caminho diante de Mim.
Imediatamente entrará no seu templo
o Senhor a quem buscais,
o anjo da Aliança por quem suspirais.
Ele aí vem – diz o Senhor do universo –.
Mas quem poderá suportar o dia da sua vinda,
quem resistirá quando Ele aparecer?
Ele é como o fogo do fundidor
e como a lixívia dos lavandeiros.
Sentar-Se-á para fundir e purificar:
purificará os filhos de Levi,
como se purifica o ouro e a prata,
e eles serão para o Senhor
os que apresentam a oblação segundo a justiça.
Então a oblação de Judá e de Jerusalém será agradável ao Senhor,
como nos dias antigos, como nos anos de outrora.

Malaquias anuncia a chegada do dia do Senhor. Nesse dia o Senhor vai entrar no seu templo para nos purificar com o fogo a fim de oferecermos uma oblação agradável aos seus olhos.

Salmo 23 (24), 7.8.9.10 (R. 10b)

O Senhor é um rei glorioso. Diante dele elevam-se os pórticos e os umbrais porque ele é o Senhor de toda a terra, é o herói de todas as batalhas, porque é grande a sua glória.

LEITURA II Heb 2, 14-18

Uma vez que os filhos dos homens
têm o mesmo sangue e a mesma carne,
também Jesus participou igualmente da mesma natureza,
para destruir, pela sua morte,
aquele que tinha poder sobre a morte, isto é, o diabo,
e libertar aqueles que estavam a vida inteira
sujeitos à servidão,
pelo temor da morte.
Porque Ele não veio em auxílio dos anjos,
mas dos descendentes de Abraão.
Por isso devia tornar-Se semelhante em tudo aos seus irmãos,
para ser um sumo sacerdote misericordioso e fiel
no serviço de Deus,
e assim expiar os pecados do povo.
De facto, porque Ele próprio foi provado pelo sofrimento,
pode socorrer aqueles que sofrem provação.

Jesus fez-se igual a nós para vencer o diabo que nos domina. Com a sua morte vence a nossa morte e torna-se para nós o Sumo Sacerdote misericordioso e capaz de se compadecer de nós.

EVANGELHO Forma longa Lc 2, 22-40

Ao chegarem os dias da purificação, segundo a Lei de Moisés,
Maria e José levaram Jesus a Jerusalém,
para O apresentarem ao Senhor,
como está escrito na Lei do Senhor:
«Todo o filho primogénito varão será consagrado ao Senhor»,
e para oferecerem em sacrifício
um par de rolas ou duas pombinhas,
como se diz na Lei do Senhor.
Vivia em Jerusalém um homem chamado Simeão,
homem justo e piedoso,
que esperava a consolação de Israel;
e o Espírito Santo estava nele.
O Espírito Santo revelara-lhe que não morreria
antes de ver o Messias do Senhor;
e veio ao templo, movido pelo Espírito.
Quando os pais de Jesus trouxeram o Menino
para cumprirem as prescrições da Lei no que lhes dizia respeito,
Simeão recebeu-O em seus braços
e bendisse a Deus, exclamando:
«Agora, Senhor, segundo a vossa palavra,
deixareis ir em paz o vosso servo,
porque os meus olhos viram a vossa salvação,
que pusestes ao alcance de todos os povos:
luz para se revelar às nações
e glória de Israel, vosso povo».
O pai e a mãe do Menino Jesus estavam admirados
com o que d’Ele se dizia.
Simeão abençoou-os
e disse a Maria, sua Mãe:
«Este Menino foi estabelecido
para que muitos caiam ou se levantem em Israel
e para ser sinal de contradição;
– e uma espada trespassará a tua alma –
assim se revelarão os pensamentos de todos os corações».
Havia também uma profetiza,
Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser.
Era de idade muito avançada
e tinha vivido casada sete anos após o tempo de donzela
e viúva até aos oitenta e quatro.
Não se afastava do templo,
servindo a Deus noite e dia, com jejuns e orações.
Estando presente na mesma ocasião,
começou também a louvar a Deus
e a falar acerca do Menino
a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém.
Cumpridas todas as prescrições da Lei do Senhor,
voltaram para a Galileia, para a sua cidade de Nazaré.
Entretanto, o Menino crescia
e tornava-Se robusto, enchendo-Se de sabedoria.
E a graça de Deus estava com Ele.

Ao entrar no templo, levado por Maria e José, Jesus torna visível a esperança de Israel e dá cumprimento às palavras do profeta Malaquias que anuncia a entrada do Anjo da Aliança no seu templo.

Reflexão da Palavra

O livro do profeta Malaquias é o último profeta do Antigo Testamento. O profeta exerce a sua missão cerca de 450 anos a.C.. No seu tempo o povo está ainda sob o domínio persa, não há rei em Israel e quem dirige o povo são os sacerdotes, pouco zelosos dos interesses do Senhor e do seu povo. Perante esta situação, Malaquias insurge-se contra o modo de proceder dos sacerdotes e acusa-os de serem eles quem impede a chegada do Rei Messias quando deviam ser os interlocutores entre Deus e o seu povo.

Tendo em conta este contexto, percebemos as palavras do profeta na primeira leitura. Ele anuncia o dia da chegada do “Senhor a quem buscais, o Anjo da Aliança por quem suspirais” e refere que à sua chegada entrará “imediatamente” no templo. É ali que estão os sacerdotes, filhos de Levi, que precisam de purificação. Este será o dia do juízo, porque o próprio Senhor virá “como o fogo do fundidor e como a lixívia dos lavandeiros. Sentar-Se-á para fundir e purificar” ou como se diz no versículo 5, “apresentar-me-ei diante de vós para julgar”. O interesse do Senhor não é condenar mas purificar, lavar, branquear porque só purificados do seu atual procedimento os sacerdotes poderão “apresentar a oblação segundo a justiçapara que “a oblação de Judá e de Jerusalém seja agradável ao Senhor”.

No entanto, há uma dúvida “quem poderá suportar o dia da sua vinda, quem resistirá quando Ele aparecer?”. O profeta anuncia que virá primeiro um mensageiro “vou enviar o meu mensageiro”, que vai preparar o caminho para que todos possam suportar o dia da chegada do Senhor, “para preparar o caminho diante de Mim”.

Percebe-se que este mensageiro é a figura de João Batista a quem o próprio Jesus aplica esta profecia quando diz à multidão “que fostes ver ao deserto? Uma cana agitada pelo vento? Então que fostes ver? Um homem vestido com roupas luxuosas? Mas aqueles que usam roupas luxuosas encontram-se nos palácios dos reis. Que fostes ver? Um profeta? Sim, eu vos digo, e mais que profeta. É aquele de quem está escrito: ‘Eis que envio o meu mensageiro diante de ti, para te preparar o caminho’” (Mt 11, 7-10).

Do salmo 24, que proclama o louvor de Deus criador “do Senhor é a terra e tudo o que nela existe, o mundo inteiro e os que nele habitam”, recolhem-se os últimos versículos. O Deus criador é também o rei glorioso que vai entrar no seu templo com toda a sua majestade, para quem é necessário levantar os umbrais e altear os pórticos. Perante a majestade do Senhor, “quem poderá subir à montanha… quem poderá apresentar-se no seu santuário?”, questiona o salmista.

Jesus que entra no templo para ser apresentado por Maria e José, é o Senhor glorioso, desconhecido ainda por todos, mas anunciado pelo profeta e aguardado, desejado, pelo povo. Quem está preparado para o receber? Quem pode permanecer de pé diante dele?

Jesus é “Sumo Sacerdote fiel” esta é a grande afirmação da Carta aos hebreus. Esta é também a grande dificuldade que os primeiros cristãos, de origem judaica, têm que enfrentar diante dos seus contemporâneos. Os judeus recusam-se a considerar Jesus como sacerdote e menos ainda Sumo Sacerdote porque ele não é descendente de Aarão nem da tribo de Levi, a tribo sacerdotal, mas descendente de David. A carta aos hebreus esforça-se por demonstrar que Jesus é verdadeiro sacerdote. Para isso afirma que o sacerdócio de Jesus não vem de Aarão, mas de Melquisedec, “Cristo não se atribuiu a glória de se tornar Sumo Sacerdote, mas concedeu-lha aquele que lhe disse: “Tu és meu filho, eu hoje te gerei. E como diz noutro passo: Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedec” (Hb 5, 5-6).

Jesus reúne todos os requisitos necessário para ser sacerdote. Ele é membro do povo, “participou da mesma natureza” dos filhos dos homens, “semelhante em tudo aos seus irmãos”e não atribuiu a si mesmo este título de glória, foi-lhe dado e não para seu benefício, mas em favor dos irmãos, “tomado de entre os homens é constituído em favor dos homens” (5,1), para “libertar aqueles que estavam a vida inteira sujeitos à servidão” e “expiar os pecados do povo” mediante “a sua morte”, o “seu sofrimento”. O sacerdócio do Antigo Testamento é, em Jesus, elevado à perfeição porque ele é “um Sumo Sacerdote fiel”, misericordioso, capaz de se compadecer.

O evangelista Lucas apresenta ao leitor Maria e José plenamente inseridos na esperança do seu povo. Conhecem as promessas de Deus e conhecem a Lei. Sabem que a fé e a Lei andam juntas e vivem cumprindo a Lei cheios de fé. A fé de Israel, a fé de Maria e José, é fortalecida pela esperança no Messias que há de vir. Por isso, “quando se cumpriu o tempo da sua purificação” eles vão ao templo cumprir a Lei, manifestando, assim, a grandeza da sua fé. Com este gesto manifestam também a submissão de Jesus à condição humana, “sujeito à Lei”.

O relato de Luca insere aqui dois personagens, Simeão e Ana. Simeão é apresentado como um homem idoso, justo e piedoso e cheio do Espírito Santo. Ele é o exemplo da esperança paciente do seu povo, “esperava a consolação de Israel”. Tinha recebido a revelação de que não morreria sem ver o Messias. Ana é uma mulher de 84 anos, profetisa, viúva depois de sete anos de casamento, filha de Fanuel e da tribo de Aser e “não se afastava do templo”.

Simeão e Ana representam a paciência de Israel que esperou longos séculos pela chegada do Messias, sem perder o desejo de o ver. Em nome de todo o povo, Simeão, exclama “os meus olhos viram a vossa salvação” numa clara expressão de alegriaNas palavras de Simeão torna-se patente também que esta salvação é universal “que pusestes ao alcance de todos os povos”.

Ana é a última profetiza do Antigo Testamento. Ela é uma mulher plenamente realizada, está bem consigo, com a sua vida, com a sua história, com Deus e com os homens e por isso, ao ver Jesus, faz o que sabe fazer, “louvar a Deus”e “falar acerca do Menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém”.

Jesus, trazido nos braços de Maria e José, realiza o que tinha sido anunciado por Malaquias “Imediatamente entrará no seu templo o Senhor a quem buscais, o Anjo da Aliança por quem suspirais”, ele é a “Luz para se revelar às nações”, ele é “a glória de Israel”. Cumpre-se a esperança de Israel.

Meditação da Palavra

A Festa da Apresentação do Senhor concentra a nossa atenção em Jesus que, para se cumprir o que está determinado pela Lei judaica, é levado por Maria e José, ao templo para ser circuncidado. Este rito, habitual na tradição judaica, é vivido por Maria e José como uma experiência profunda da sua fé. Para eles, cumprir a Lei é fazer a vontade de Deus, é a total realização do “faça-se em mim segundo a tua palavra”.

Aquele acontecimento, tão natural na vida dos casais que tinham a graça de receber nos braços um filho primogénito, tem aqui um alcance maior porque este primogénito que entra no templo não é apenas um filho de homem é o filho de Deus concebido no seio de Maria pela força do Espírito Santo. Este primogénito vem cumprir todas as promessas e, por isso, realiza o que foi anunciado por Malaquias e que nós escutámos na primeira leitura. Ele é “o Anjo da Aliança por quem suspirais” que ao chegar “Imediatamente entrará no seu templo”.

O menino que entra no templo levado como oferta ao Senhor, pelos seus pais, é o mesmo que mais tarde entrará no templo para o purificar expulsando o vendedores e cambistas que fizeram da casa de oração um covil de ladrões e é o mesmo que se oferece a si mesmo como oblação agradável a Deus no altar da cruz, porque é o Sumo Sacerdote da Nova Aliança.

Lucas insere nesta cena dois anciãos que representam o povo de Israel e a sua esperança messiânica, para revelar o mistério que se esconde no menino. Ele é, como se pode ver nas palavras de Simeão “a salvação” que vem ao encontro dos homens, é “a Luz que se revela às nações” e “a glória de Israel”, ele é, na boca da profetisa Ana, “a libertação de Jerusalém”.

Esta revelação é feita pelo próprio Espírito Santo que está em Simeão, lhe promete que não morrerá sem ter visto o Messias e o move a ir ao Templo naquele momento em que Jesus está a entrar. O mesmo Espírito está também em Ana que, estando presente, anuncia a todos a grande revelação que recebeu durante a sua vida de proximidade com Deus, a quem servia dia e noite, na oração e no jejum.

Simeão é o Israel fiel que finalmente recebe Jesus nos braços e Ana a Igreja na sua missão de anunciar a todos os homens a mesma esperança. Eles nos ensinam a ver, “os meus olhos viram”, Deus escondido num recém-nascido, como está escondido nas coisas pequenas e simples da vida. Do mesmo modo que se encontra oculto aos olhos de Israel, no Egipto, no deserto do Sinai, no desterro de Babilónia, nas lutas que tem que travar contra os inimigos ou nas feridas deixadas pela opressão, está presente também nas circunstâncias da nossa vida. Nas dores e angústias, nas alegrias e nas tristezas, nos tempos de dor e lágrimas, nos fracassos e nas derrotas, na solidão, no deserto espiritual ou no vazio existencial.

Simeão e Ana ensinam-nos a esperar com paciência, talvez durante toda a vida para chegar a ver Deus sempre presente com a sua graça a transformar o que em nós foi permanecendo como sinal envelhecido na nossa condição humana e a descobrir que a graça vale mais que a vida e que a vida toda não chega para o bendizer. Ensinam-nos a olhar para o menino e a reconhecer nele a salvação que é dada a todos os que esperam, a acolhê-lo nos braços para o deixar entrar pelos pórticos da nossa vida e a falar dele a todos os que, como nós esperam sem desânimo, no meio das tentações que se atravessam na vida.

Simeão e Ana ensinam-nos que a salvação vem de Jesus e não de outro. Que só ele, pela sua morte, espada de dor que atravessa o coração de Maria, vence a nossa morte e nos liberta da servidão do pecado, porque ele é o Sumo Sacerdote misericordioso e digno de confiança, capaz de se compadecer de nós e nos perdoar.

Nesta festa olhemos para Jesus, o “Anjo da Aliança”, o Senhor do templo, que hoje quer entrar no santuário do nosso coração para aí estabelecer a retidão e a justiça a fim de nos oferecermos a nós mesmos como oblação agradável ao Senhor.

Rezar a Palavra

Os meus olhos já viram”, Senhor, mas ainda não tudo quanto o teu mistério me quer revelar. Ainda não vi o suficiente para reconhecer a tua presença em todas as circunstâncias da minha vida. Ainda não vi o suficiente para me decidir a altear os pórticos do meu coração e os umbrais da minha vida para que habites em mim como num templo. Ainda não vi o suficiente para reconhecer que a tua graça vale mais que a vida. Ainda não vi o necessário para me oferecer a mim mesmo como oblação agradável aos teus olhos.

Compromisso semanal

Quero ver como Simeão e anunciar como a profetisa Ana.

Via: aliturgia.com

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