Adão de Perseigne (?-1221)abade cisterciense
Sermão 4 para a Purificação
O Pai das luzes convida os filhos da luz (cf Lc 16,18) a celebrar esta festa de luz: os que se voltam para Ele ficarão «radiantes», o seu rosto «não se cobrirá de vergonha» (Sl 34,6). Com efeito, «Aquele que habita numa luz inacessível» (1Tm 6,16) decidiu tornar-Se acessível; Ele abaixou-Se na nuvem da carne para que o fraco e o pequeno possam subir até Ele. Que descida misericordiosa! «Inclinou os céus», isto é, os cumes da divindade, e «desceu», tornando-Se presente na carne, «com densas nuvens debaixo dos seus pés» (Sl 18,10). […] Obscuridade necessária para nos dar a luz! A luz verdadeira escondeu-Se na nuvem da carne (cf Ex 13,21), nuvem obscura pela sua semelhança com a nossa «carne pecadora» (Rm 8,3). […] Uma vez que a luz verdadeira fez da carne seu esconderijo, nós, que somos seres de carne, aproximemo-nos do Verbo feito carne […] para aprendermos a passar, pouco a pouco, da carne ao espírito. Aproximemo-nos agora, pois hoje um novo sol brilha mais que o habitual. Até agora, tinha estado fechado em Belém, na estreiteza de um berço, e muito pouca gente O tinha conhecido; mas hoje, em Jerusalém, apresenta-Se a muitos no Templo do Senhor. […] Hoje o Sol eleva-Se para irradiar sobre o mundo inteiro. […] Quem me dera que a alma me ardesse com o desejo que inflamava Simeão, para que eu merecesse ser portador de tão grande luz! Mas, se a alma não for purificada dos seus pecados, não poderá ir ao encontro de Cristo «sobre as nuvens», ao encontro da verdadeira liberdade (1Ts 4,17). […] De facto, só então poderá alegrar-se com Simeão na luz verdadeira e, como ele, partir em paz.