«Todos os que O tocavam ficavam curados»
Santo Agostinho (354-430) bispo de Hipona (norte de África), doutor da Igreja
Sermão 306, passim
Todos os homens querem ser felizes; não há ninguém que não o queira, e com tanta intensidade que o deseja acima de tudo. Melhor ainda: tudo o que querem para além disso querem-no para isso. Os homens perseguem paixões diferentes, um esta, outro aquela; também existem muitas maneiras de ganhar a vida neste mundo: cada um escolhe a sua profissão e exerce-a. Mas quer adotem este ou aquele género de vida, todos os homens agem para ser felizes. […] O que há então nesta vida capaz de nos fazer felizes, que todos desejam mas que nem todos alcançam? Procuremo-lo. […] Se eu perguntar a alguém: «Queres viver?», não há ninguém que se sinta tentado a responder-me: «Não quero». […] Do mesmo modo, se eu perguntar: «Queres ser saudável?», ninguém me responderá: «Não quero». A saúde é um bem precioso aos olhos do rico, e é muitas vezes o único bem que o pobre possui. […] Todos concordam no amor pela vida e pela saúde. Ora, quando o homem desfruta da vida e é saudável, poderá contentar-se com isso? […] Um homem rico perguntou ao Senhor: «Bom Mestre, que hei de fazer para alcançar a vida eterna?» (Mc 10,17). Temia morrer e sabia que haveria de morrer. […] Sabia que uma vida de dor e de tormentos não é vida, e que se lhe deveria antes dar o nome de morte. […] Só a vida eterna pode ser uma vida feliz. A saúde e a vida neste mundo não garantem a felicidade, pois tememos perdê-las: chamai a isto «temer sempre» e não «viver sempre». […] Se a nossa vida não é eterna, se não satisfaz eternamente os nossos desejos, não pode ser feliz, nem sequer é vida. […] Quando entrarmos nessa vida, teremos a certeza de aí ficar para sempre. Teremos a certeza de possuir eternamente a verdadeira vida sem qualquer temor, pois encontrar-nos-emos naquele reino sobre o qual se diz: «E o seu reinado não terá fim» (Lc 1,33).