Não somos donos da bondade

Saber reconhecer o bem que fazem os que não pertencem à Igreja não pode jamais servir de pretexto para contemporizar, relativizando a necessidade de abraçar a única fé verdadeira.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
(Mc 9, 38-40)

Naquele tempo, João disse a Jesus: “Mestre, vimos um homem expulsar demônios em teu nome. Mas nós o proibimos, porque ele não nos segue”. Jesus disse: “Não o proibais, pois ninguém faz milagres em meu nome para depois falar mal de mim. Quem não é contra nós é a nosso favor”.

O Evangelho que a Igreja hoje proclama costuma causar certas dificuldades de interpretação.

Advertido por João de que alguém, estranho ao grupo dos Doze, vinha realizando milagres em seu nome, Cristo diz: “Quem não é contra nós é a nosso favor”. O problema é que, noutra passagem, registrada pelo evangelista São Lucas, Jesus afirma exatamente o contrário: “Quem não está comigo, está contra mim” (Lc 11, 23). Como entender essa tensão aparentemente contraditória entre uma e outra afirmação?

Santo Agostinho resolve a dificuldade observando que, no Evangelho de hoje, a resposta do Senhor é uma repreensão ao desejo dos Apóstolos de impedir que também outras pessoas façam o bem. Embora o erro, a heresia e o pecado devam, sim, ser repreendidos e detestados, nem todas as obras de quem está no erro, na heresia ou no pecado são sempre e necessariamente ruins ou perniciosas. O bem, se o é de verdade, não só pode como deve ser reconhecido e aplaudido, sobretudo quando serve para a maior glória de Deus e de Cristo.

Que isso, porém, não nos faça perder de vista a necessidade de aceitarmos a Jesus por inteiro, na integridade de sua doutrina, sem atenuar ou obscurecer nenhuma das exigências morais do Evangelho. Saibamos, pois, louvar a Deus no bem e na verdade que até os que estão longe da Igreja conseguem praticar e conhecer, mas não renunciemos jamais à única fé completa e verdadeira — a fé católica.

Via: padrepauloricardo.org

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