«Que hei de fazer para alcançar a vida eterna?»

São Gregório Magno (c. 540-604) papa, doutor da Igreja
«Morais sobre Job», Livro XI, SC 212

Para Deus, chamar é dirigir para nós o olhar do seu amor e da sua eleição; para nós, responder-Lhe é obedecer ao seu amor com a sabedoria dos nossos atos. Daí estas palavras justas: «Falo eu e Tu me replicarás» (Job 13,22). De facto, falamos com Ele quando O desejamos, quando procuramos o seu rosto; e Deus responde à nossa voz quando aparece ao nosso amor. Mas, se o homem suspira pela eternidade, passa em revista cada um dos seus atos com autocrítica penetrante, procurando ver se há nele alguma coisa que possa ofender o olhar do seu Criador; e Job tem o direito de acrescentar: «Quantas são as minhas faltas e pecados? Mostra-me a minha iniquidade e os meus crimes» (Job 13,23). É este a árdua tarefa do homem justo nesta vida: descobrir-se a si mesmo e, ao descobrir-se, chorar e corrigir-se, para se tornar melhor […]. Assim, todo o homem que, na ânsia do seu desejo de eternidade, quer comparecer perante o juiz que vem, examina-se agora com tanto mais penetração quanto se interroga sobre a maneira de comparecer perante esse terrível juiz como homem livre: pede-Lhe que lhe mostre o que Lhe desagrada, para poder punir-se por isso com a penitência e, tornando-se o seu próprio juiz neste mundo, não ser já punido pelo Juiz.

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