Quem rejeita a cruz, rejeita Jesus

Na Quaresma, duas cruzes se unem em uma só: a de Cristo e a nossa. A dele, porque o Filho do Homem, rejeitado pelos seus, havia de sofrer muito e ser crucificado; a nossa, porque os que seguem a Ele, rejeitando-se a si mesmos, hão de tomar cada dia a cruz dos próprios sofrimentos e penitências.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 9, 22-25)

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: “O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da Lei, deve ser morto e ressuscitar no terceiro dia”.
Depois Jesus disse a todos: “Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia, e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, esse a salvará.
Com efeito, de que adianta a um homem ganhar o mundo inteiro, se se perde e se destrói a si mesmo?”

Hoje, iniciando a nossa caminhada quaresmal, Jesus anuncia a sua Paixão pela primeira vez. Se recordarmos, veremos que nos Evangelhos sinóticos — Mateus, Marcos e Lucas —, Nosso Senhor anuncia a sua Paixão três vezes, iniciando logo após a profissão de fé de São Pedro. 

É interessante notarmos que a reação de fé de São Pedro faz com que Cristo já anuncie o seu sofrimento, porque é exatamente na fé que conseguimos compreender e tirar algum significado do sofrimento de Jesus na Cruz. Ele diz desde o início: “Se alguém quer me seguir, o caminho é este”, deixando implícito que a cruz não é uma exceção ou uma alternativa: a cruz é a regra. Portanto, aquele que deseja seguir o caminho de Cristo deve renunciar a si mesmo e tomar a cruz dia após dia, configurando-se a Ele.

Quando optamos por seguir Jesus, não podemos achar que Ele é o nosso “amiguinho” que mostrará ensinamentos comovedores e irá resolver todos os nossos problemas. Seguir a Cristo significa viver a vida dele, dando realmente os passos que Ele deu, mas infelizmente muitas pessoas não entendem isso e pensam o oposto: querem seguir Nosso Senhor propondo um cristianismo sem cruz, onde se lê o Evangelho excluindo a má notícia, o sofrimento e a desgraça, a fim de dar lugar a um cristianismo analgésico, sem dor. 

Contudo, quem quiser seguir a Cristo sem cruz, vai terminar com a cruz sem Jesus, pois o sofrimento existe em nossas vidas. É isso que Ele próprio anuncia neste Evangelho, quando diz: “Quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, esse a salvará” (cf Lc 9,24). 

Se observarmos bem, veremos que há dois níveis de verdade atrás dessa frase. O primeiro é um nível existencial e psicológico, pois de fato se constata que as pessoas que fogem da dor acabam atraindo mais dor para a sua vida, porque se tornam egoístas e isoladas e, portanto, começam a transgredir leis e a fazer coisas absurdas, querendo se salvar, mas atraindo desastres em cima de desastres. Entretanto, existe um nível mais profundo nessa verdade: o nível da graça, pelo qual sabemos que somos chamados a morrer verdadeiramente para nossa vida velha, a fim de que a graça floresça em nós e nos dê uma vida nova, divina e sobrenatural. Essa é a dinâmica do primado da graça e da vida santificante. 

Se desejamos que a santidade cresça verdadeiramente em nossas vidas, não há outro jeito: precisamos amar, e esse “amar” é, de alguma forma, morrer para ressuscitar. Assim, desde o início da nossa caminhada quaresmal, já aparece com toda clareza o mistério pascal: a Morte e a Ressurreição. Por isso, quem morrer irá se salvar, mas quem quiser se salvar rejeitando o mistério pascal, terminará sem Jesus e sem a si mesmo, contrariando aquilo que Ele quer de nós: a realização pessoal.

Via: padrepauloricardo.org

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