Vivamos uma Quaresma de reparação
Se tivéssemos um coração como o da Santíssima Virgem, não ousaríamos pecar, porque quanto mais santa é a nossa alma, mais o pecado se torna terrível e desprezível, uma vez que enxergamos a grande ofensa que ele causa em Jesus.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 9, 14-15)
Naquele tempo, os discípulos de João aproximaram-se de Jesus e perguntaram: “Por que razão nós e os fariseus praticamos jejuns, mas os teus discípulos não?”
Disse-lhes Jesus: “Por acaso, os amigos do noivo podem estar de luto enquanto o noivo está com eles? Dias virão em que o noivo será tirado do meio deles. Então, sim, eles jejuarão”.
Estamos na primeira sexta-feira da Quaresma, um tempo especialíssimo de penitência e, coincidentemente, trata-se também da primeira sexta-feira do mês, um dia dedicado de forma especial à reparação das ofensas feitas ao Sagrado Coração de Jesus. Por isso, precisamos hoje refletir a respeito das obras de mortificação e das penitências para repararmos tanto o Sagrado Coração de Jesus, como o Imaculado Coração de Maria.
Antes de tudo, devemos compreender que existe uma profunda desordem no pecado, mas não conseguimos enxergar isso porque o pecado é uma realidade espiritual. Trata-se de uma invenção angélica; logo, os seres humanos possuem uma grande dificuldade de compreender verdadeiramente o que é o pecado. Então, Deus veio em nosso auxílio e, com a Encarnação do Verbo — quando o Filho de Deus, Jesus, se fez homem e, depois, morreu na Cruz — temos estampado na carne de Cristo, no sacrifício do Calvário, o que é o pecado.
Ora, se o pecado tinha como único remédio a morte de Cristo na Cruz, sem sombra de dúvida ele é uma realidade muito grave. Quando, por exemplo, vamos ao médico e ele nos receita uma aspirina, não damos grande importância à doença. Contudo, quando o médico diz que devemos passar por uma quimioterapia, então ficamos assustados, porque sabemos que a doença é grave. Do mesmo modo, Deus, nosso “médico”, passou um remédio para a doença do pecado: Ele precisou se encarnar e morrer na Cruz para nos salvar. Portanto, existe algo tremendamente sério no pecado que precisaríamos meditar e, num ato de fé, pedirmos a graça de Deus nos revelar ao coração a verdade da desordem do pecado. Assim, vendo o que o nosso pecado faz com Cristo na Cruz, iremos enxergar o que ele também espiritualmente faz de ofensa e de desordem a Deus e a tudo aquilo que é santo, como a Virgem Maria e seu Imaculado Coração. Cientes disso, estaremos prontos para reparar.
Mas o que é reparar? Reparar significa que devemos fazer algo para compensar a desordem do pecado, desagravar essa situação e satisfazer Nosso Senhor com atitudes santas. Essas três palavras: reparar, desagravar e satisfazer, são sinônimos que querem dizer que nós, com nossos pecados, ofendemos ao Coração de Jesus e ao Coração da Virgem Maria.
Como Deus é espiritual e, portanto, não sofre, era difícil para nós entendermos que ofensa era o pecado. Então, Deus se fez homem e, com um coração humano, sofreu, e os sofrimentos causados ao Coração de Cristo reverberam no Coração de sua Mãe Santíssima. Se tivéssemos um coração santo e imaculado como a Virgem Maria, entenderíamos perfeitamente o que é o pecado e sofreríamos tremendamente quando alguém cometesse um.
Vivamos, então, essa Quaresma com muitas penitências e orações, a fim de repararmos as ofensas feitas a Deus com o nosso pecado.
Ato de Reparação de Pio XI
Dulcíssimo Jesus, cuja infinita caridade para com os homens é por eles tão ingratamente correspondida com esquecimentos, friezas e desprezos, eis-nos aqui prostrados na Vossa presença, para Vos desagravarmos, com especiais homenagens, da insensibilidade tão insensata e das nefandas injúrias com que é de toda parte alvejado o Vosso amorosíssimo coração.
Reconhecendo, porém, com a mais profunda dor, que também nós mais de uma vez cometemos as mesmas indignidades, para nós, em primeiro lugar, imploramos a Vossa misericórdia, prontos a expiar não só as próprias culpas, senão também as daqueles que, errando longe do caminho da salvação, ou se obstinam na sua infidelidade, não Vos querendo como pastor e guia, ou, conculcando as promessas do Batismo, sacudiram o suavíssimo julgo da Vossa santa lei.
De todos estes tão deploráveis crimes, Senhor, queremos nós hoje desagravar-Vos, mais particularmente da licença dos costumes e imodéstia do vestido, de tantos laços de corrupção armados à inocência, da violação dos dias santificados, das execrandas blasfêmias contra Vós e Vossos Santos, dos insultos ao Vosso Vigário e a todo o Vosso clero, do desprezo e das horrendas e sacrílegas profanações do Sacramento do divino amor e, enfim, dos atentados e rebeldias das nações contra os direitos e o Magistério da Vossa Igreja.
Oh! Se pudéssemos lavar com o próprio sangue tantas iniqüidades!
Entretanto, para reparar a honra divina ultrajada, Vos oferecemos, juntamente com os merecimentos da Virgem Mãe, de todos os santos e almas piedosas, aquela infinita satisfação, que Vós oferecestes ao eterno Pai sobre a cruz, e que não cessais de renovar todos os dias sobre nossos altares.
Ajudai-nos Senhor, com o auxílio da Vossa graça, para que possamos, como é nosso firme propósito, com a vivência da fé, com a pureza dos costumes, com a fiel observância da lei e caridade evangélicas, reparar todos os pecados cometidos por nós e por nosso próximo, impedir, por todos os meios, novas injúrias de Vossa divina Majestade e atrair ao Vosso serviço o maior número de almas possíveis.
Recebei, ó benigníssimo Jesus, pelas mãos de Maria santíssima reparadora, a espontânea homenagem deste nosso desagravo, e concedei-nos a grande graça de perseverarmos constantes, até à morte, no fiel cumprimento de nossos deveres e no Vosso santo serviço, para que possamos chegar todos à pátria bem-aventurada, onde Vós com o Pai e o Espírito Santo viveis e reinais por todos os séculos dos séculos. Amém.
Via: padrepauloricardo.org