Por que Deus nos pede fé?

Os milagres são um argumento certo da religião católica e um critério suficiente para aceitarmos a revelação divina. Mas, apesar de sua força intrínseca, nenhum milagre pode, sozinho, forçar-nos a crer, pois a fé é uma adesão pessoal a um Deus que nos criou livres e que livremente quer ser crido por nós.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 11, 29-32)

Naquele tempo, quando as multidões se reuniram em grande quantidade, Jesus começou a dizer: “Esta geração é uma geração má. Ela busca um sinal, mas nenhum sinal lhe será dado, a não ser o sinal de Jonas.
Com efeito, assim como Jonas foi um sinal para os ninivitas, assim também será o Filho do Homem para esta geração. No dia do julgamento, a rainha do Sul se levantará juntamente com os homens desta geração, e os condenará. Porque ela veio de uma terra distante para ouvir a sabedoria de Salomão. E aqui está quem é maior do que Salomão.
No dia do julgamento, os ninivitas se levantarão juntamente com esta geração e a condenarão. Porque eles se converteram quando ouviram a pregação de Jonas. E aqui está quem é maior do que Jonas”.

No Evangelho de hoje, Jesus nos fala da geração má e perversa que busca um sinal. Por que Jesus se lamenta dessa realidade? Em primeiro lugar, é preciso saber que Ele, concretamente, mostrava sinais e fazia milagres, com a finalidade de levar as pessoas à fé. Contudo, a fé é uma realidade que, se formos descrever como funciona, coloca-nos numa caminhada no escuro, para depois darmos um passo em direção à confiança. Isso significa que, ainda que um sinal seja dado, a pessoa não está isenta de crer. E a geração da qual Jesus reclamou queria exatamente um sinal que comprovasse tudo, tornando a fé dispensável. 

Para entendermos melhor, podemos considerar o seguinte exemplo: uma pessoa diz para seu amigo que lhe dará um milhão de dólares, e a prova de que ele fará isso é um cheque de mil dólares. Bom, se a pessoa que está recebendo esse valor confiou naquele que o presenteou, só resta a ela crer que ganhará um milhão de dólares. Mas, se a pessoa é como a geração má e perversa da qual o Evangelho nos fala, ela pode dizer: “Olhe, estou verificando o extrato e vi que ainda não foi depositado um milhão. Então, eu quero o depósito desse valor para realmente acreditar em você”. Dessa forma, não é necessário mais crer, pelo fato de já haver um milhão na conta. 

Então, Jesus veio para pedir a fé, e cabe a nós decidirmos: vamos ou não confiar e crer nele? Vamos ou não nos abrirmos para a realidade da fé? Porque quando uma pessoa vê os sinais e é movida pela graça, ela se desarma diante de Deus e deixa que Ele haja em seu interior, e assim o ato da fé sobrenatural acontece: a luz de Deus ilumina a sua inteligência, convida a sua vontade e ela se entrega confiante a Deus, mas não em virtude de uma força humana, e sim pela colaboração da ação humana com a graça divina. 

É importante descrevermos isso porque muitas pessoas têm dificuldade de crer. Elas até querem se aproximar da fé, mas primeiro desejam uma “prova” para poderem crer. Porém, desse modo, a fé torna-se necessária, uma vez que quem vê determinada realidade não precisa mais crer nela. 

Portanto, Deus quer a nossa fé porque, por trás de todo ato de fé, há um início de amor, aquela chama que é acesa pelo Espírito Santo em nossos corações e que nos leva a acolher o amor de Deus, de tal forma que dizemos: “É verdade, Cristo me ama e eu confio nele, por isso vou mudar de vida. Não seguirei minhas vontades e meus caprichos, mas somente a Ele”. Entretanto, se somos maus e perversos, qual é a nossa atitude? É a mesma da Serpente que semeou a desconfiança no coração de Adão e Eva: “Deus proibiu vocês de comerem o fruto proibido? Ah, mas Ele fez isso porque sabe que, se vocês comerem, serão como Ele”. O diabo maliciosamente semeou a dúvida; ao passo que o Senhor quer semear a fé. 

Deus, com infinita misericórdia, fez-se homem e morreu por nós na Cruz, entregando-se para a nossa salvação. Existirá maior prova de amor? Vamos, pois, parar de nos esconder e nos desarmar diante de nosso Redentor, especialmente nesta Quaresma, onde precisamos pedir ao Senhor sem cessar a graça de uma fé cada vez maior. Ele é nosso amigo; creiamos e demos o passo na fé.

Via: padrepauloricardo.org

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