As armadilhas da vida humana

«Tomai cuidado com o fermento dos fariseus» (Mc 8,15). Tenhamos cuidado com o fermento dos fariseus, com o apego exagerado às observâncias exteriores de instituição humana, às cerimónias vãs, a uma ordem exterior bela que absorve todas as nossas preocupações, a um apego que produz, pouco a pouco, o esquecimento do interior, que acaba por nos fazer negligenciar o interior do copo para limparmos o exterior, que faz de nós hipócritas, sepulcros branqueados e, ao mesmo tempo, espíritos pequenos, mesquinhos, encolhidos, incapazes de qualquer conceção elevada e apegados com força extrema a ninharias, minúcias, puerilidades. […] E tenhamos cuidado com o fermento de Herodes, o fermento dos saduceus, como se diz noutra passagem do Evangelho, isto é, a preguiça, a sensualidade, a moleza, o amor ao bem-estar, a busca do conforto e, como consequência inevitável, o amor ao dinheiro, às riquezas, às honras e às grandezas; os fariseus afastam-se da verdade, da simplicidade, da bondade, da misericórdia, da humildade e de toda a grandeza de alma. […] Os saduceus abominam a pobreza, a abjeção da penitência, a cruz, a humildade, e são tão ignorantes da bondade e da misericórdia como os fariseus. […] Uns e outros substituem o amor a Deus e o amor ao próximo pelo amor a si próprios. […] Os fariseus são mais susceptíveis de perder a inteligência pelo orgulho, os saduceus, de perder o coração pela sensualidade. […] Estas duas seitas representam as duas principais armadilhas da vida humana, particularmente da vida religiosa: tenhamos muito cuidado em evitar o fermento dos fariseus e dos saduceus!

São Charles de Foucauld (1858-1916) eremita e missionário no Saara – Sobre o Evangelho

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