EVANGELHO Mt 25, 1-13

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos a seguinte parábola: «O reino dos Céus pode comparar-se a dez virgens, que, tomando as suas lâmpadas, foram ao encontro do esposo. Cinco eram insensatas e cinco eram prudentes. As insensatas, ao tomarem as suas lâmpadas, não levaram azeite consigo, enquanto as prudentes, com as lâmpadas, levaram azeite nas almotolias. Como o esposo se demorava, começaram todas a dormitar e adormeceram. No meio da noite ouviu-se um brado: ‘Aí vem o esposo; ide ao seu encontro’. Então, as virgens levantaram-se todas e começaram a preparar as lâmpadas. As insensatas disseram às prudentes: ‘Dai-nos do vosso azeite, que as nossas lâmpadas estão a apagar-se’. Mas as prudentes responderam: ‘Talvez não chegue para nós e para vós. Ide antes comprá-lo aos vendedores’. Mas, enquanto foram comprá-lo, chegou o esposo. As que estavam preparadas entraram com ele para o banquete nupcial; e a porta fechou-se. Mais tarde, chegaram também as outras virgens e disseram: ‘Senhor, senhor, abre-nos a porta’. Mas ele respondeu: ‘Em verdade vos digo: Não vos conheço’. Portanto, vigiai, porque não sabeis o dia nem a hora».

Sentindo a demora na vinda do Senhor, Mateus insiste com os discípulos de Jesus para aproveitarem o tempo de espera, a demora na chegada, preparando-se para o encontro, de modo que o Senhor, que vem como um ladrão em hora e dia que ninguém sabe, não os encontre a dormir.

Reflexão da Palavra

O texto da primeira leitura é tirado da segunda parte do livro da Sabedoria (6,1-9,18), onde o autor, um anónimo da primeira metade do século I a. C., que vive em ambiente cultural da antiga Grécia, provavelmente em Alexandria, escreve para os judeus incentivando-os a permanecerem fiéis ao Deus de seus pais e não caírem na tentação da idolatria. O autor faz, nesta segunda parte, o elogio da Sabedoria e revela como ela se pode adquirir. A Sabedoria, que por vezes se identifica com o próprio Deus e aqui se identifica com uma forma de viver, deve ser procurada pelo homem se quiser ser justo, não a procurar significa escolher ser ímpio. O texto deixa clara a possibilidade de encontrar a Sabedoria porque ela própria se deixa encontrar e sai ao encontro de quem a procura. Para a encontrar é necessário amá-la, procurá-la, desejá-la, buscá-la desde a aurora, não se cansar, meditar sobre ela, consagrar-lhe vigílias.

O salmo 63, uma oração de confiança, mostra-nos como ocupa o seu tempo aquele que procura o Senhor. O seu dia começa muito cedo “desde a aurora vos procuro” e termina tarde, pela noite dentro, “quando no leito vos recordo, passo a noite a pensar em vós”. O dia é passado na contemplação e no louvor que se configuram num banquete de “saborosos manjares” que sacia, em contraste com a sede de Deus que se experimenta desde a aurora. Chegado a experimentar a alegria da intimidade com Deus, o salmista vive a alegria, “levantarei as mãos” e “com vozes de júbilo vos louvarei”.

Tirado da segunda parte da carta de Paulo aos tessalonicenses, o texto da segunda leitura aponta para a realidade presente na perspetiva da vinda futura do Senhor. Paulo pede e exorta, no início do capítulo 4 da carta, para que progridam sempre mais na vontade de “caminhar e agradar a Deus”. Esta resposta há de verificar-se em todos os aspetos da vida cristã: no cumprimento dos preceitos, na santificação, no amor fraterno, viver em paz, no trabalho e no testemunho perante os de fora da comunidade, porque a vinda do Senhor está próxima.

Na comunidade de Tessalónica havia, no entanto, uma questão que precisava ser resolvida e tinha a ver com os mortos. Como é que eles podem aguardar, esperar e ir ao encontro de Cristo quando ele vier? Paulo, procura esclarecer a situação dos defuntos, chamando os crentes a uma atitude de esperança, bem diferente daqueles que se entristecem.

Vivos ou mortos, todos irão ao encontro de Cristo quando soar a trombeta, porque “Deus levará com Jesus os que em Jesus tiverem morrido”. Vivos ou mortos “estaremos sempre com o Senhor”. É esta fé no poder de Deus que faz nascer a esperança no crente e o leva a viver em alegria.

No evangelho, depois das parábolas a convidar à vigilância, porque está eminente a chegada do Reino, Mateus apresenta, no início do capítulo 25, esta parábola sobre o Reino dos Céus. Dá-se uma mudança na perspetiva do evangelista, pois o Reino já não está eminente como em parábolas anteriores. Agora há um tempo de espera, uma demora que torna incerta a hora em que o esposo vai chegar “não sabeis o dia nem a hora”. Perante esta situação, já não é importante o dia e a hora mas a atitude de cada um, prudentes ou insensatos, durante o tempo de espera. Ou seja, Mateus, agora propõe uma espera ativa e disponível para aguardar a chegada do esposo e não uma espera passiva.

A parábola apresenta estas duas atitudes. Cinco virgens são prudentes, quer dizer, preparam-se no tempo de espera, para acompanhar o esposo quando ele chegar e as outras cinco são insensatas, julgam que o esposo não demora e ficam passivas, não se preparam para o acompanhar quando ele chegar e, na hora do encontro não têm azeite.

Esta insensatez traz consigo um atraso fatal que impede entrar no banquete. Encontrando a porta fechada já não adianta suplicar “Senhor, Senhor”, porque nem todo o que diz “Senhor, Senhor!’ entrará no Reino dos Céus, mas só aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus.” (Mt, 7,21). Claramente as virgens insensatas não fizeram a vontade de Deus.

Meditação da Palavra

O tema da procura e do encontro, que atravessa toda a liturgia da palavra deste domingo, tem no evangelho um ponto de convergência. O texto, situado na parte final do evangelho, aponta para uma dimensão escatológica, para o dia do encontro com o esposo. Dia e hora que ninguém conhece.

O esposo é Jesus e vem, como a Sabedoria retratada na primeira leitura, ao encontro dos homens. As virgens somos todos nós, prudentes ou insensatos, aguardamos a chegada de Jesus. O azeite simboliza a espera ativa e a falta dele a despreocupação total face ao encontro com o esposo. A noite representa a demora e faz sucumbir ao peso do sono os que esperam.

Esta parábola, contada por Jesus aos seus discípulos, pretende ensiná-los a viver o tempo de espera, sem desânimos nem cansaços e conscientes da demora. Aparentemente todos esperam, todos desejam encontrar-se com o esposo, todos foram com as suas lâmpadas esperar o senhor que vem, todas se deixaram dormir. Mas, na realidade, existe uma grande diferença entre os que esperam. Uns ocupam o tempo de espera preparando-se para acompanhar o esposo até ao banquete enquanto outros vivem um desejo que vai até à possibilidade de vê-lo, mas não prevê segui-lo mais além.

Na hora que menos esperam, “no meio da noite”, soa a “voz do arcanjo”, a “trombeta divina”, todos despertam, vivos e mortos, e revela-se o que distingue prudentes de insensatos. Percebe-se quem esperou de modo ativo, mantendo-se firme na procura, confirmando o amor e o desejo da sabedoria, mantendo-se em sentido de alerta, na escuta permanente e de pensamento vigilante. Estes são os que se encontram e são encontrados e seguem com o esposo para o banquete. Pelo contrário, aqueles que negligenciaram a sua espera e consideraram desnecessário manter viva a sede de Deus, esses, porque não têm azeite, porque vão à pressa comprá-lo à última hora, porque chegam atrasados, porque a porta fechou não entram e nem sequer são conhecidos. Terminadas as oportunidades de procurar não adianta clamar dizendo “Senhor, Senhor”, porque o importante é fazer “a vontade de meu Pai que está nos céus”.

Mateus alerta, assim, os discípulos de Jesus de todos os tempos, para a necessidade de mudar o comportamento diante da certeza da vinda do Senhor e da incerteza do dia e da hora.

A atitude prudente é a daquele que vive desde a aurora à procura do Senhor, o procura como quem tem sede, vive a espera no amor e no desejo do encontro, não se cansa de esperar, antes passa a noite a pensar naquele que o coração ama.

Que, à hora do “sinal dado, à voz do arcanjo e ao som da trombeta divina”, seja na aurora do dia ou no meio da noite, sejamos encontrados em atitude de quem espera o Senhor que vem, para “sermos arrebatados”, “para irmos ao encontro do Senhor nos ares” e podermos estar “sempre com o Senhor”.

Rezar a Palavra

Senhor, ensina-me a amar a sabedoria, para gastar todas as forças da minha alma a desejá-la e a procurá-la, pelos caminhos da vida. Que o cansaço não me atraiçoe, nem a demora me faça desistir. Seja dia ou seja noite que o meu coração se mantenha firme no desejo de vos encontrar e que a sabedoria seja a luz que me ilumina. Tornai, Senhor, mais curto o caminho da busca e mais próximo o momento do encontro para não me deixar dormir no sono da insensatez.

Compromisso semanal

Desde a aurora até à noite procuro o Senhor, porque ele se deixa encontrar.

Referência: aliturgia.com

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