Ontem, celebrámos o nascimento temporal do nosso Rei eterno; hoje, celebramos o martírio triunfal do seu soldado. […] O nosso Rei, o Altíssimo, humilhou-Se por nós; mas a sua vinda não foi em vão, pois Ele trouxe grandes dons aos seus soldados, a quem não só enriqueceu abundantemente, mas também fortaleceu para serem invencíveis na luta: trouxe-lhes o dom da caridade, que torna os homens participantes da natureza divina. […] A mesma caridade que Cristo trouxe do Céu à terra levou Estêvão da terra ao Céu. […] Para merecer a coroa que o seu nome significa, Estêvão tomou como arma a caridade, e com ela triunfou por toda a parte. Por amor de Deus, não cedeu perante os judeus que o atacavam; por amor do próximo, intercedeu pelos que o apedrejavam. Por caridade, argumentava com os que estavam no erro, para que se corrigissem; por caridade, orou pelos que o apedrejavam, para que não fossem castigados. Confiando na força da caridade, venceu a crueldade de Saulo e mereceu ter como companheiro no Céu aquele que na terra fora seu perseguidor. Movido por santa e infatigável caridade, desejava conquistar com a sua oração aqueles que não pudera converter com as suas palavras. E agora, Paulo alegra-se com Estêvão, com Estêvão goza da glória de Cristo, com Estêvão triunfa, com Estêvão reina. Onde primeiro entrou Estêvão, martirizado pelas obras de Paulo, entrou depois Paulo, ajudado pelas orações de Estêvão.
São Fulgêncio de Ruspas (467-532) bispo no Norte de África – Sermão 3, 1-3, 5-6 ; CCL 91 A, 905-909