Ama e verás o teu Deus!

O próprio Senhor veio, mestre de caridade, cheio de caridade. […] Refleti comigo, irmãos, sobre a natureza destes dois preceitos. Eles devem ser-nos muito conhecidos, não nos vindo à mente só quando os recordamos, mas nunca desaparecendo do nosso coração: é esse o nosso dever. Lembrai-vos sempre de que devemos amar a Deus e ao nosso próximo. A Deus com todo o coração, toda a alma e todo o entendimento; e ao próximo como a nós mesmos. […] O amor a Deus é o primeiro na ordem dos preceitos, mas o amor ao próximo é o primeiro na ordem da execução. De facto, aquele que nos ordenou este amor em dois preceitos não podia ordenar-nos que amássemos primeiro o próximo e depois a Deus, mas a Deus e ao próximo. Mas, como ainda não vemos a Deus, é amando o próximo que merecemos vê-lo; amando o próximo, purificamos o olhar para ver a Deus. Para João, isto é uma evidência: «quem não ama o seu irmão, que vê, não pode amar a Deus, que não vê» (1Jo 4,20). Se me disseres: mostra-me aquele que queres que eu ame, responder-te-ei o que diz o mesmo João: «ninguém jamais viu a Deus» (Jo 1,18). Mas não penses que és um estranho à visão de Deus: «Deus é amor: quem permanece no amor permanece em Deus» (1Jo 4,16). Amai, pois, o próximo e considerai a fonte deste amor ao próximo que há em vós; aí, na medida do possível, vereis a Deus […]. «Então, a vossa luz despontará como a luz da manhã» (Is 58,8). A nossa luz é o nosso Deus, para nós luz da manhã, porque sucederá à noite deste mundo; com efeito, Ele não se levanta nem se põe, porque permanece para sempre.

Santo Agostinho (354-430) bispo de Hipona (norte de África), doutor da Igreja – Tratado sobre Jo 17,8

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