Ano B
Buscadores de Deus
Viemos adorá-lo.
Três homens, uma estrela, um desafio, uma aventura, uma longa viagem, a humanidade em busca.
No coração uma inquietação. No mais íntimo um desejo. No mais profundo uma ausência. Procuro por ti: “Onde está?”. Dúvidas, incertezas, perguntas sem resposta.
Caminho sem saber para onde. Procuro sem saber a quem.
Viemos adorá-lo.
LEITURA I Is 60, 1-6
Levanta-te e resplandece, Jerusalém, porque chegou a tua luz e brilha sobre ti a glória do Senhor. Vê como a noite cobre a terra e a escuridão os povos. Mas, sobre ti levanta-Se o Senhor e a sua glória te ilumina. As nações caminharão à tua luz e os reis ao esplendor da tua aurora. Olha ao redor e vê: todos se reúnem e vêm ao teu encontro; os teus filhos vão chegar de longe e as tuas filhas são trazidas nos braços. Quando o vires ficarás radiante, palpitará e dilatar-se-á o teu coração, pois a ti afluirão os tesouros do mar, a ti virão ter as riquezas das nações. Invadir-te-á uma multidão de camelos, de dromedários de Madiã e Efá. Virão todos os de Sabá, trazendo ouro e incenso e proclamando as glórias do Senhor.
A vinda do Senhor é como uma luz que dá início a um dia sem ocaso. Israel já pode ver essa luz através da profecia de Isaías e resplandecer. Jerusalém será lugar para onde caminharão todos os povos atraídos pela glória do Senhor.
Salmo 71 (72), 2.7-8.10-11.12-13 (R. cf. 11)
O salmo fala do filho do rei que identificamos com Jesus. Cheio do Espírito de Deus ele governa com justiça, cuida dos pobres e dos oprimidos.
LEITURA II Ef 3, 2-3a.5-6
Irmãos: Certamente já ouvistes falar da graça que Deus me confiou a vosso favor: por uma revelação, foi-me dado a conhecer o mistério de Cristo. Nas gerações passadas, ele não foi dado a conhecer aos filhos dos homens como agora foi revelado pelo Espírito Santo aos seus santos apóstolos e profetas: os gentios recebem a mesma herança que os judeus, pertencem ao mesmo corpo e participam da mesma promessa, em Cristo Jesus, por meio do Evangelho.
Paulo recebe uma graça que o leva a anunciar a todos o mistério de Cristo. Seduzido pela revelação que lhe foi feita, tem consciência de que a verdade que lhe foi dado conhecer se destina a todos e não apenas a ele.
EVANGELHO Mt 2, 1-12
Jesus nascido em Belém da Judeia, nos dias do rei Herodes, quando chegaram a Jerusalém uns Magos vindos do Oriente. «Onde está – perguntaram eles – o rei dos judeus que acaba de nascer? Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-l’O». Ao ouvir tal notícia, o rei Herodes ficou perturbado e, com ele, toda a cidade de Jerusalém. Reuniu todos os príncipes dos sacerdotes e escribas do povo e perguntou-lhes onde devia nascer o Messias. Eles responderam: «Em Belém da Judeia, porque assim está escrito pelo Profeta: ‘Tu, Belém, terra de Judá, não és de modo nenhum a menor entre as principais cidades de Judá, pois de ti sairá um chefe, que será o Pastor de Israel, meu povo’». Então Herodes mandou chamar secretamente os Magos e pediu-lhes informações precisas sobre o tempo em que lhes tinha aparecido a estrela. Depois enviou-os a Belém e disse-lhes: «Ide informar-vos cuidadosamente acerca do Menino; e, quando O encontrardes, avisai-me, para que também eu vá adorá-l’O». Ouvido o rei, puseram-se a caminho. E eis que a estrela que tinham visto no Oriente seguia à sua frente e parou sobre o lugar onde estava o Menino. Ao ver a estrela, sentiram grande alegria. Entraram na casa, viram o Menino com Maria, sua Mãe, e, prostrando-se diante d’Ele, adoraram-n’O. Depois, abrindo os seus tesouros, ofereceram-Lhe presentes: ouro, incenso e mirra. E, avisados em sonhos para não voltarem à presença de Herodes, regressaram à sua terra por outro caminho.
Vindos de longe os Magos são, para os crentes de hoje, modelo de buscadores de Deus. A noite não impede que se procure e as dificuldades não são obstáculos para o caminho. O importante é chegar até Jesus.
Reflexão da Palavra
O profeta anuncia para Jerusalém uma grande alegria. Perante este anúncio, a cidade não pode ficar indiferente, tem que reagir de imediato, “levanta-te e resplandece”. O que motiva esta alegria é a mudança da noite para o dia. Jerusalém e todos os povos vivem na noite “vê como a noite cobre a terra e a escuridão os povos”, mas “chegou a tua luz”. A luz brilha em Jerusalém para todos os povos. Há aqui um universalismo que dá um lugar privilegiado a Israel. A Luz de Jerusalém é o próprio Senhor “brilha sobre ti a glória do Senhor”, “o Senhor e a sua glória te ilumina”. Esta luz é vista por todos os povos que, atraídos, subirão ao monte do Senhor, “todos vêm ao teu encontro”. Juntamente com os povos vêm os filhos e as filhas de Israel desterrados. Por causa desta luz que resplandece em Jerusalém os filhos de Israel são libertados e os povos vêm pagar tributo “afluirão os tesouros do mar”, “as riquezas das nações”, “ouro e incenso”. Jerusalém será lugar de todos os povos e não mais conhecerá a noite porque nela brilha o Senhor.
O salmo 71 é um uma súplica pelo rei. Não é especificado o motivo desta súplica nem o enquadramento que o motiva. Pode ser uma festa real, uma celebração religiosa, uma coroação ou eventualmente o nascimento do filho do rei. Interessa aqui, particularmente, perceber que o poder de julgar vem de Deus, assim como a capacidade de governar com justiça. É Deus quem legitima o rei no seu trono e lhe concede as faculdades para governar.
O salmista suplica para que o Senhor legitime e conceda os dons ao rei. Assim favorecido o rei pode governar com justiça, socorrer os pobres e os miseráveis, ter compaixão dos fracos e defender o oprimido.
Os cristãos veem neste salmo uma identificação com Jesus, particularmente pela referência ao rei e ao filho do rei. O filho do rei é Jesus, tendo em conta o que ele próprio diz “o Pai não julga ninguém, mas entregou ao Filho todo o julgamento, para que todos honrem o Filho como honram o Pai” (Jo 5,22).
Centrada no mistério de Cristo, sua morte, ressurreição e exaltação, a carta aos efésios foi escrita durante o cativeiro de Paulo, como ele mesmo diz “eu, Paulo, prisioneiro de Cristo, por vós, os gentios” (Ef 3,1). Esta referência é, para Paulo, um título que garante a autenticidade da sua doutrina e da sua condição de apóstolo dos gentios. A sua doutrina é verdadeira porque não foi inventada por ele, nem para seu benefício. Foi Deus quem lhe concedeu uma graça que é revelação do mistério de Cristo e para benefício dos gentios. A Paulo foi dada a graça de conhecer o mistério de Cristo e aos efésios a graça de, pela pregação do apóstolo, receberem a herança, pertencer ao mesmo corpo e participar da mesma promessa que os judeus.
Mateus descreve de modo singular o nascimento de Jesus. Para ele, mais do que contar com exatidão os factos, interessa-lhe alertar para o impacto que este nascimento tem na história da humanidade em geral e de Israel em particular.
O texto evangélico começa por apresentar uns buscadores que vêm do oriente, guiados por uma estrela e a quem se dá o nome de Magos. A busca que estes homens empreendem leva-os, primeiro a Jerusalém e logo até ao lugar onde se encontram Maria e o Menino. Procuram “o rei dos judeus que acaba de nascer” e têm como intenção “viemos adorá-lo”, segundo o que eles próprios dizem. São guiados por uma estrela que recorda a estrela de David e a luz que em Jerusalém atrai todos os povos, de acordo com o texto de Isaías.
O evangelista coloca os Magos em Jerusalém, sem estrela e sem caminho. O lugar da luz transforma-se para eles numa noite sem aurora. “Herodes ficou perturbado e, com ele, toda o Jerusalém” realidade que revela a densidade das trevas que se opõem à vinda de Jesus e como diante dele ninguém fica indiferente. Apesar de conhecerem as escrituras que falam de Jesus como o Messias, sobre quem recaem as profecias, as autoridades de Jerusalém, em vez de irem ao seu encontro, ficam no lugar da oposição.
Revelado o coração de Herodes e o local do nascimento do Messias, o evangelista recupera a estrela e rapidamente faz chegar os Magos ao lugar onde está o menino que procuram. As ofertas dos magos recordam o texto de Isaías e o salmo 72, quando referem o ouro e o incenso como ofertas vindas de Sabá. Ali mesmo se cumpre o objetivo dos Magos vindos do oriente, “prostrando-se diante d’Ele, adoraram-n’O”, e desta forma Mateus revela a identidade divina de Jesus. O descendente de David não é apenas homem é também Deus.
O sonho dos Magos revela a manifestação de Deus aos pagãos e como estes colaboram com Deus no cumprimento dos seus planos.
Meditação da Palavra
A solenidade da Epifania fala da universalidade da salvação oferecida por Deus e manifestada em Cristo, desde o seu nascimento. A manifestação de Deus em Jerusalém, anunciada por Isaías, acontece para toda a humanidade com o nascimento de Jesus e para os efésios através de uma graça que foi concedida a Paulo em seu favor.
A liturgia da palavra desta solenidade reúne pontos muito interessantes de reflexão. A noite transforma-se em dia e a tristeza em alegria quando o Senhor se levanta sobre Jerusalém. O povo de Israel, tanto o resto que ficou em Jerusalém como os que foram levados para o exílio, recebem através de Isaías a notícia do que vai acontecer e que os olhos já podem contemplar. O Senhor levanta-se sobre Jerusalém com a sua glória e ilumina a noite, atraindo para o seu monte santo todos os povos que virão com presentes e trarão consigo os cativos do seu povo.
Esta promessa, que desperta a alegria de Israel, pode contemplar-se no menino da descendência de David, que a Virgem deu à luz em Belém de a cordo com as profecias. É este menino que os misteriosos Magos, vindos do oriente, procuram, acreditando que ele é rei dos judeus e dispostos a adorá-lo como a um Deus. Este menino é o mistério que estava escondido desde toda a eternidade mas que pode ser conhecido hoje por todos os homens, de todos os povos, porque Deus se revela tanto aos judeus como aos pagãos fazendo de todos um e “mesmo corpo” e concedendo a todos participação “da mesma promessa, em Cristo, por meio do evangelho”.
Os Magos são o exemplo de como Deus se revela a todos, através dos mais diversos sinais, como pode ser uma estrela, e revelam o coração buscador de todos os homens que, sentindo a urgência do encontro com a verdadeira luz, não temem a escuridão dos homens e procuram em todos os caminhos e por todos os meios aquele que nasceu para nós, o Menino que nos foi dado.
Os Magos são o testemunho de muitos homens que mantiveram o coração e a mente livres de toda a corrupção que apaga o desejo de Deus, de todo o preconceito que impede a busca e de todo o respeito humano que incapacita para adorar.
O relato do encontro dos Magos com Jerusalém e os seus chefes põe a claro que não basta pertencer ao povo de Deus, não é suficiente habitar a cidade santa, não é por conhecer o que dizem as Escrituras que se está perto de Deus, mas pela busca incansável que dura a vida toda. Pela experiência dos Magos percebe-se que não é o conforto da certeza que nos leva a Jesus, mas decisão de não deixar que as dúvidas e as dificuldades travem o caminho. Não é a luz mas o desejo de a alcançar que faz ir mais longe, até Deus.
O encontro dos Magos com a Mãe e o Menino ensina que o coração não engana quando vê aquele que deseja. Não há perguntas, não importam as dúvidas, não interessam as questões humanas nem as aparências, porque o essencial é invisível aos olhos. No encontro com Deus pode ser tudo muito simples e desprovido de cerimónias e adereços, “entraram na casa, viram o Menino com Maria, sua Mãe, e, prostrando-se diante d’Ele, adoraram-n’O”.
Como para os Magos, o encontro com Deus inaugura o sonho de um novo caminho. É sempre possível, em qualquer momento da vida, o encontro com Deus e é sempre possível iniciar um novo caminho. Foi assim com os Magos e com muitos buscadores de Deus de que falam as Escrituras e muitos outros que povoam a história da Igreja.
Os Magos dizem hoje, a todos nós, que é possível, mesmo sem fé, meter-se a caminho, atravessar a noite e seguir a luz que nos leva a Belém, que nos leva a Jesus e nos faz cair de joelhos em adoração perante o olhar perplexo de quem nos conhece. A aventura dos Magos pode muito bem ser a aventura de cada um de nós.
Rezar a Palavra
Levanta-te sobre mim e faz resplandecer em mim a tua glória, Senhor. Ilumina-me com a tua glória e levanta-me para que seguindo a tua luz te encontre no mistério do Menino nascido em Belém. Revela em mim este mistério para que te veja onde os meus olhos apenas conseguem perceber a superficialidade deste mundo.
Compromisso semanal
Quero ser buscador incansável de Deus.
Referência: aliturgia.com