Desde que aqui cheguei que não paro: percorri ativamente as aldeias, batizei todas as crianças que ainda não tinham sido batizadas. […] As crianças não me deixavam recitar o ofício divino, nem comer, nem descansar, enquanto não lhes tivesse ensinado uma oração. Comecei então a compreender que o Reino dos Céus pertence de facto àqueles que com elas se assemelham (cf Mc 1, 14). E como não podia, sem ser ímpio, rejeitar pedido tão piedoso, começando pela profissão de fé no Pai, no Filho e do Espírito Santo, ensinava-lhes o Credo dos apóstolos, o pai-nosso e a ave-maria. E observei que eram muito dotados; havendo alguém que os formasse na fé cristã, estou certo de que se tornariam muito bons cristãos. Há neste país muitos que não são cristãos pelo simples facto de não haver ninguém que faça deles cristãos. Tive muitas vezes a ideia de percorrer todas as universidades da Europa, a começar pela de Paris, clamando por toda a parte como um louco e chamando a atenção daqueles que têm mais doutrina do que caridade, dizendo-lhes: «Ouçam, há muitas e muitas almas que são excluídas do céu por vossa causa e se afundam no inferno!». Prouvera a Deus que, assim como se consagram às letras, pudessem também consagrar-se a este apostolado, a fim de poderem corresponder à doutrina e aos talentos que lhes foram confiados! Estou certo de que muitos deles, abalados por esta ideia e ajudados pela meditação das coisas divinas, atentariam ao que o Senhor lhes diz e, rejeitando as suas ambições e os seus negócios humanos, se submeteriam por completo e em definitivo à vontade e aos decretos de Deus. Sim, exclamariam do fundo do coração: «”Que hei de fazer, Senhor?” (At 22, 10). Envia-me para onde quiseres, mesmo que seja para a Índia».
São Francisco Xavier (1506-1552) missionário jesuíta – Cartas 4 e 5 a Santo Inácio de Loyola