São João Paulo II (1920-2005) papa
Encíclica «Dives in Misericordia» §9 (trad. © copyright Libreria Editrice Vaticana, rev.)
«Cantarei eternamente as misericórdias do senhor» (Sl 88,2). No cântico pascal da Igreja repercutem-se, com a plenitude do seu conteúdo profético, as palavras que Maria pronunciou durante a visita que fez a Isabel, esposa de Zacarias: «A sua misericórdia estende-se de geração em geração». Tais palavras abrem, já desde o momento da encarnação, uma nova perspectiva da história da Salvação. Após a ressurreição de Cristo, esta nova perspectiva passa para o plano histórico e, ao mesmo tempo, reveste-se de um sentido escatológico novo. Desde então, sucedem-se sempre novas gerações de homens na imensa família humana, em dimensões sempre crescentes; sucedem-se também novas gerações do Povo de Deus, assinaladas pelo sinal da cruz e da ressurreição […], o mistério pascal de Cristo, revelação absoluta daquela misericórdia que Maria proclamou à entrada da casa da sua parente. […] Mãe do Crucificado […], Maria é aquela que conhece mais profundamente o mistério da misericórdia divina. Conhece o seu preço e sabe quanto é elevado. É neste sentido que lhe chamamos Mãe da misericórdia, Nossa Senhora da Misericórdia […], capaz de descobrir, primeiro através dos complexos acontecimentos de Israel, e depois daqueles que dizem respeito a cada um dos homens e à humanidade inteira, a misericórdia da qual todos se tornam participantes, segundo o eterno desígnio da Santíssima Trindade, «de geração em geração». […] Mãe do Crucificado e do Ressuscitado […], tendo experimentado a misericórdia de um modo excecional, «merece» igualmente tal misericórdia durante toda a sua vida terrena e, de modo particular, aos pés da cruz do Filho. […] Em seguida, através da participação escondida e, ao mesmo tempo, incomparável na missão messiânica de seu Filho, foi chamada de modo especial para tornar próximo dos homens o amor que o Filho tinha vindo revelar: amor que encontra a sua mais concreta manifestação com os que sofrem, os pobres, os que estão privados de liberdade, os cegos, os oprimidos e os pecadores, conforme explicou Cristo (cf Lc 4,18; 7,22).