«Ide», dizes-nos a cada passo do evangelho. Para sermos no teu sentido, temos de ir, mesmo quando a preguiça nos pede que fiquemos. Escolheste-nos para vivermos num estranho equilíbrio. Um equilíbrio que só pode ser estabelecido e mantido no movimento, no impulso. É como a bicicleta, que só se mantém de pé em circulação, a bicicleta que fica encostada ao muro até que alguém a monte, e parta estrada fora. A nossa condição é de insegurança universal, vertiginosa. Quando nos pomos a olhar para ela, a vida desequilibra-se e escapa-nos. Só conseguimos manter-nos de pé caminhando, avançando, num impulso de caridade. […] Recusas-Te a dar-nos um roteiro para o caminho. A nossa viagem decorre de noite. Cada ação que fazemos é como um semáforo que se acende. Muitas vezes, a única coisa que temos como certa é o cansaço habitual de fazer todos os dias o mesmo trabalho, de recomeçar as mesmas tarefas, de corrigir os mesmos defeitos, de evitar os mesmos erros. À parte esta garantia tudo está entregue à tua imaginação, que pode fazer connosco o que quiser.
Venerável Madaleine Delbrêl (1904-1964) missionária das pessoas da rua – A espiritualidade da bicicleta