«Retirou-Se num barco para um local deserto e afastado»

São Bruno (?-1101) fundador dos cartuxos
Carta a Raoul le Verd, 4, 15-16

Querido irmão, habito um deserto situado na Calábria, bastante afastado, de todos os lados, das habitações dos homens; aqui estou com os meus irmãos religiosos, alguns detentores de muita sabedoria, que fazem vigílias santas e perseverantes, à espera do regresso do seu Mestre, para Lhe abrirem a porta quando Ele bater (cf Lc 12,36) […]. A divina alegria e a utilidade que a solidão e o silêncio do deserto trazem àqueles que os amam, sabem-nos quantos o experimentaram. De facto, aqui, os homens fortes podem recolher-se quanto desejarem, permanecer em si próprios, cultivar assiduamente as virtudes e alimentar-se, em felicidade, dos frutos do paraíso. Aqui, esforçamo-nos por adquirir aquele olhar claro que fere de amor o divino Esposo e cuja pureza permite ver a Deus. Aqui, dedicamo-nos a um repouso bem preenchido e pacificamo-nos em ações tranquilas. Aqui, Deus concede aos seus atletas, pelo labor do combate, a desejada recompensa: uma paz que o mundo não conhece, e a alegria no Espírito Santo […]. De facto, que há de mais contrário à razão, à justiça, à própria natureza, que preferir a criatura ao Criador, os bens perecíveis aos bens eternos, a terra ao Céu? […] É a Verdade em pessoa que dá este conselho a todos: «Vinde a Mim, todos os que estais fatigados e oprimidos, e Eu vos darei descanso» (Mt 11,28). Não será ingrato e estéril sofrimento ser atormentado pela concupiscência, afligido sem cessar pelas preocupações, a ansiedade, o temor, e as dores resultantes destes desejos? […] Foge, irmão, de todas estas inquietações, passa da tempestade deste mundo para o repouso tranquilo e seguro do porto.

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