Santo Ambrósio (c. 340-397)bispo de Milão, doutor da Igreja
De Excessu Fratris II, 90-91
Porque terá Cristo morrido, senão porque tinha de ressuscitar? Com efeito, uma vez que Deus não podia morrer, a Sabedoria não podia morrer, e o que não pode morrer não pode ressuscitar. Por isso, Ele assumiu uma carne capaz de morrer, para que essa morte, que é própria da carne, Lhe desse oportunidade de ressuscitar. Assim, a ressurreição só podia ter lugar através de um homem, «pois se por um homem veio a morte, também por um homem veio a ressurreição dos mortos» (1Cor 15,21). O homem ressuscitou porque foi o homem que morreu. O homem ressuscitou, mas foi Deus que O ressuscitou. Ele era homem segundo a carne, mas agora é Deus em tudo; porque agora já não conhecemos Cristo na carne (cf 2Cor 5,16), mas temos a graça da sua carne e reconhecemo-lo como «primícia dos que estão adormecidos» (1Cor 15,20) e «primogénito de entre os mortos» (Col 1,18). As primícias são exatamente da mesma espécie e natureza que os frutos seguintes. Os primeiros frutos são oferecidos a Deus com vista a uma colheita mais abundante, como oferta sagrada por todos os outros frutos e como oblação de natureza renovada. Cristo é, portanto, «primícia dos que estão adormecidos». Mas Ele será apenas dos seus, dos que adormeceram suavemente como se estivessem isentos da morte, ou será a primícia de todos os mortos? A Escritura responde: «Tal como em Adão todos morrem, assim também em Cristo todos serão restituídos à vida» (1Cor 15,22). Deste modo, a primícia da morte está em Adão e a primícia da ressurreição está em Cristo.