III DOMINGO DO ADVENTO

Ano C

Com quem queres dançar?

Sentada diante da porta do salão, ela atraía o olhar de todos os que entravam em busca de par para dançar. O rosto redondo acompanhado pelo cabelo à solta, com os olhos a cintilar de juventude e os lábios da cor do vestido cor-de-rosa, bordado pela mãe, ela esperava o momento de entrar na dança. Um e outro se aproximaram delicados, com palavras doces de convite “a menina dança?”. A todos baixou os olhos, sorriu e respondeu “não”.

Para dançar escolhe-se aquele que o coração ama.

No horizonte dos seus sonhos já paira um olhar ainda por descobrir, um semblante vença a indiferença do coração, uma presença que deixe suspensa a respiração. Os seus olhos ainda não o viram, mas o seu coração diz-lhe que ele vem.

LEITURA I Sof 3, 14-18a

Clama jubilosamente, filha de Sião; solta brados de alegria, Israel. Exulta, rejubila de todo o coração, filha de Jerusalém. O Senhor revogou a sentença que te condenava, afastou os teus inimigos. O Senhor, Rei de Israel, está no meio de ti e já não temerás nenhum mal. Naquele dia, dir-se-á a Jerusalém: «Não temas, Sião, não desfaleçam as tuas mãos. O Senhor teu Deus está no meio de ti, como poderoso salvador. Por causa de ti, Ele enche-Se de júbilo, renova-te com o seu amor, exulta de alegria por tua causa, como nos dias de festa».

Perante a infidelidade de Israel, causada pela má conduta dos seus governantes, e diante da ameaça da Assíria que domina o reino de Judá, Sofonias não se deixa vencer pelo medo. O profeta anuncia a chegada do Senhor e convida o povo à conversão. O Senhor está disposto a revogar a sentença de condenação. O Senhor quer dançar com o seu povo e gritar de alegria por causa de Israel. A alegria do Senhor é a renovação do seu povo.

Salmo: Is 12, 2-3.4bcd.5-6 (R. 6)

O profeta anuncia ao povo que o Senhor já chegou “é grande no meio de vós o Santo de Israel”. A sua confiança leva-o a convidar o povo a entoar cânticos de alegria ao Senhor, a agradecer-lhe, anunciando a grandeza das suas obras e o seu santo nome.

LEITURA II Flp 4, 4-7

Irmãos: Alegrai-vos sempre no Senhor. Novamente vos digo: alegrai-vos. Seja de todos conhecida a vossa bondade. O Senhor está próximo. Não vos inquieteis com coisa alguma; mas em todas as circunstâncias, apresentai os vossos pedidos diante de Deus, com orações, súplicas e ações de graças. E a paz de Deus, que está acima de toda a inteligência, guardará os vossos corações e os vossos pensamentos em Cristo Jesus.

O Senhor não tarda, “está próximo”, por isso, Paulo convida os filipenses a viver tranquilos, dedicados à oração e à bondade para com todos, conscientes de que os seus corações estão guardados em Cristo.

EVANGELHO Lc 3, 10-18

Naquele tempo, as multidões perguntavam a João Batista: «Que devemos fazer?». Ele respondia-lhes: «Quem tiver duas túnicas reparta com quem não tem nenhuma; e quem tiver mantimentos faça o mesmo». Vieram também alguns publicanos para serem batizados e disseram: «Mestre, que devemos fazer?». João respondeu-lhes: «Não exijais nada além do que vos foi prescrito». Perguntavam-lhe também os soldados: «E nós, que devemos fazer?». Ele respondeu-lhes: «Não pratiqueis violência com ninguém nem denuncieis injustamente; e contentai-vos com o vosso soldo». Como o povo estava na expectativa e todos pensavam em seus corações se João não seria o Messias, ele tomou a palavra e disse a todos: «Eu baptizo-vos com água, mas está a chegar quem é mais forte do que eu, e eu não sou digno de desatar as correias das suas sandálias. Ele batizar-vos-á com o Espírito Santo e com o fogo. Tem na mão a pá para limpar a sua eira e recolherá o trigo no seu celeiro; a palha, porém, queimá-la-á num fogo que não se apaga». Assim, com estas e muitas outras exortações, João anunciava ao povo a Boa Nova».

O povo que espera o Messias encontra em João Batista uma resposta clara “eu não sou digno”. A sua missão consiste em convidar à conversão e indicar o caminho para aquele que está a chegar. Ele sim, é o Messias que vem julgar e batizar no Espírito Santo e com o fogo.

Reflexão da Palavra

O profeta Sofonias, como se diz logo no início do seu livro, pregou em Jerusalém durante o reinado de Josias, século VII a.C. O reino de Judá está sob o domínio assírio há cerca de um século. O povo vive sob a influência de práticas e costumes estrangeiros que adulteraram também a sua experiência religiosa, tendo-se difundido o culto de Baal. Com a colaboração de Josias, o profeta Sofonias promove uma reforma. O seu pequeno livro de apenas três capítulos está dividido em três partes: o anúncio de um juízo universal no dia da vinda do Senhor; ameaças contra as nações estrangeiras, em vista da conversão de Judá; a promessa da salvação após o castigo das nações. Trata-se de um convite à conversão de todo o povo e das nações da terra. O texto da primeira leitura é tirado desta última parte.

O profeta fala da salvação que o Senhor realiza a favor de Israel. O Senhor é como um esposo que se dedica à sua esposa porque a quer ver feliz, apesar de ela ter sido infiel “naquele dia, não te envergonharás dos pecados que cometeste contra mim” (Sf 3,11). O profeta faz um convite à alegria “rejubila… solta brados de alegria…alegra-te e exulta…”. O motivo da alegria é o próprio Senhor, o esposo, pois ele “revogou as sentenças contra ti” e ele “está no meio de ti”. Já não há razão para temer “não temerá… não temas”. Também o Senhor “exulta de alegria” e não só exulta como “dança e grita de alegria”. Israel, a esposa, é a razão pela qual o Senhor “exulta de alegria”. Foi “por tua causa” que ele “revogou a sentença”, “afastou o teu inimigo”, “afastou de ti a desgraça”. Por ti “exulta…, dança e grita de alegria” e por amor “te renovará”.

Em vez do salmo aparece na liturgia deste domingo o cântico de Isaías. O profeta anuncia o que será razão de louvor e ação de graças no futuro. A afirmação “tenho confiança e nada temo” é uma antecipação da segurança que virá sobre o povo quando o Senhor o libertar. Por enquanto, ainda há razões para temer. O profeta começa por dizer “cantarás naquele dia”, um dia que está por vir. Apesar de a realidade ainda não revelar as razões para a alegria, as palavras do profeta convidam à confiança porque o Senhor é salvação “o Senhor é a minha força e o meu louvor. Ele é a minha salvação”, portanto, “entoai cânticos de alegria”.

Já na conclusão da pequena carta aos Filipenses, Paulo faz um convite à alegria, recordando, àquela comunidade, que “o Senhor está próximo”. A proximidade do Senhor é razão para a alegria e para a confiança “não vos inquieteis com coisa alguma”, porque o próprio Senhor “guardará os vossos corações e os vossos pensamentos”. Por isso, a preocupação dos filipenses deve centrar-se na bondade “seja de todos conhecida a vossa bondade” e na oração “em todas as circunstâncias, apresentai os vossos pedidos diante de Deus, com orações, súplicas e ações de graças”.

Lucas apresenta a sequência de duas cenas onde João, o Batista, é a figura central. Na primeira, as multidões acorrem a João para escutar o seu desafio à conversão e mergulharem nas águas purificadoras do batismo, na segunda, esclarece que ele não é o Messias. As palavras de João despertam nos ouvintes a vontade de mudar de vida, mas não sabem o que fazer. O texto coloca na boca dos diversos grupos que constituem a multidão presente, a mesma pergunta: “Que devemos fazer?”. João recorda que a conversão implica uma mudança de atitude na relação com os outros: a prática da justiça, a partilha de bens e a não violência. Nada que os profetas não tivessem já anunciado.

O estilo de vida, as palavras e o batismo de João atraem as multidões ao ponto de julgarem que é ele, aquele que esperam, o Messias. Lucas sabe que o Messias é Jesus e quer orientar para ele e para o seu evangelho os leitores, por isso, a resposta de João é clara, sem ambiguidades que confundam os ouvintes. João é apenas um servo, que não é “digno de desatar as correias das suas sandálias”, as de Jesus, o Senhor. E o seu batismo não tem comparação com o do Messias, pois este, batiza no Espírito Santo e com o fogo. A missão de João é convidar à conversão e anunciar que o Messias está a chegar. Esta é a Boa Nova. O Messias quando chegar vai purificar a todos, distinguindo o que é trigo do que é palha.

Meditação da Palavra

As leituras deste III domingo do Advento repetem constantemente um convite à alegria. A primeira leitura insiste “clama jubilosamente… solta brados de alegria… Exulta, rejubila de todo o coração”, Isaías convida, dizendo “entoai cânticos de alegria”. Paulo incentiva os filipenses, “alegrai-vos sempre… alegrai-vos”. No evangelho, João “anunciava ao povo a Boa Nova”.

Ao mesmo tempo em todas as leituras surge um convite à serenidade, à paz, a viverem tranquilos e sem preocupações. Sofonias diz ao povo “não temas, Sião, não desfaleçam as tuas mãos”, Isaías no salmo afirma “tenho confiança e nada temo”, Paulo sossega os filipenses, dizendo-lhes “não vos inquieteis com coisa alguma” e no evangelho João aconselha “quem tiver duas túnicas reparta com quem não tem nenhuma; e quem tiver mantimentos faça o mesmo… Não exijais nada além do que vos foi prescrito… Não pratiqueis violência com ninguém nem denuncieis injustamente; e contentai-vos com o vosso soldo”.

Considerando que este convite é, hoje, destinado a cada um de nós que vive este tempo de Advento, temos que perguntar: Que razões têm em comum os destinatários de cada uma destas leituras entre eles e connosco para recebermos todos o mesmo convite a viver alegres e tranquilos? Ao ler a palavra deste domingo percebemos uma razão comum “o Senhor está no meio de ti”, “é grande no meio de vós o Santo de Israel”, “o Senhor está próximo”, “está a chegar quem é mais forte do que eu… Ele batizar-vos-á com o Espírito Santo e com o fogo”. Todos, de modo diferente e em tempos diferentes, mas todos esperamos e temos já no meio de nós o “Santo de Israel”, o Messias.

E, lendo mais profunda a palavra percebe-se por que motivo aquele que “está a chegar”, “está próximo” e “está no meio de ti” é a razão da nossa alegria. Ele “revogou a sentença que te condenava, afastou os teus inimigos”, é um “poderoso salvador”, “é o meu Salvador, a minha força, a minha salvação “guardará os vossos corações e os vossos pensamentos”, “recolherá o trigo no seu celeiro”.

Lendo ainda mais profundamente, compreendemos que a razão mais importante é o seu amor por nós. É o amor de um esposo pela sua esposa. Um amor que transforma a vida em alegria. Um amor que faz dançar. Só se dança com aquele que o nosso coração ama. Ele é esse coração que nos ama, o coração que o nosso coração anseia para dançar, num bailado que faz gritar de alegria.

A experiência do amor faz com que a nossa alegria seja a sua alegria, “por causa de ti, Ele enche-Se de júbilo… dança e grita de alegria por tua causa, como nos dias de festa”. Um amor que renova por dentro os corações, “renova-te com o seu amor”, que revoga a sentença de condenação, enfrenta os inimigos e apazigua a nossa inquietação.

A alegria proposta pela palavra é antecipada. No meio das incertezas político-sociais e no meio da confusão religiosa do tempo de Sofonias, o anúncio da chegada do Senhor que vem torna-se razão para a alegria. A ameaça da Assíria no tempo de Isaías não retira a confiança do profeta em Deus e não o impede de chamar o povo à alegria por causa do Santo de Israel. Em todo o tempo, para lá das circunstâncias existenciais, o Senhor é sempre razão de alegria “alegrai-vos sempre no Senhor”.

O tempo de Advento é para nós, como foi para o povo do tempo de Sofonias, para a multidão que acorre a João Batista e para os filipenses, um tempo de espera pelo Senhor. Também nós esperamos que, o Senhor que já veio, venha de novo e seja para nós o Deus “que está no meio de nós”, o Deus que salva, a Boa Nova. Tanto mais que nós já sabemos que a razão da nossa alegria é Jesus, nascido em Belém da Virgem Maria.

Rezar a Palavra

Quero dançar contigo Senhor. Quero fazer da minha vida um bailado sincronizado contigo. Quero dançar nas asas da aurora, na espuma da esperança, no mistério do amor e na brisa da tarde, lado a lado contigo. Quero ouvir-te gritar de alegria por causa do amor que nos faz dançar aos dois.

Compromisso semanal

Acolho em mim a alegria da Boa Nova anunciada por João.

Via: aliturgia.com

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