Nas entranhas do monstro marinho, Jonas, de braços abertos em forma de cruz, prefigurava claramente a Paixão que nos salva; e, saindo dele ao terceiro dia, esboçou a tua transcendente ressurreição, Cristo nosso Deus, que na tua carne foste pregado a um madeiro e, ressuscitando ao terceiro dia, iluminaste o mundo. Tu, o Filho por natureza, o Verbo movido pela piedade, assumiste no teu ser a forma dos filhos da terra, despojada da sua dignidade, e tens em Ti uma e outra forma, isto é, a da divindade, pois és consubstancial ao Pai, e a da humanidade, pois és também mortal em toda a verdade; e foi por isto que suportaste os sofrimentos da Paixão na tua natureza mortal. […] Os mortos voltam à vida, levantando-se de uma só vez dos seus túmulos, enquanto Tu, ó Cristo, permaneces preso à cruz, porque o inferno temia afrontar-Te, com receio da nova vida, em consequência da qual ficou só, cativo e sem recursos; no final, porém, tendo sido contado entre os mortos, depois de o teres obrigado a devolver aqueles que tinha engolido, Tu ressuscitaste ao terceiro dia.
Livro das Horas do Sinai (século IX) Cânone em honra da cruz e da ressurreição, SC 486