São João Crisóstomo (c. 345-407) presbítero de Antioquia, bispo de Constantinopla, doutor da Igreja
Louvores de São Paulo, homilia 2
Foi o apóstolo Paulo quem melhor nos mostrou o que é o homem, como é nobre a sua natureza e a coragem de que é capaz. Todos os dias dava tudo de si com audácia sempre nova, apesar dos perigos pelos quais era assediado, como testemunham as suas próprias palavras: «Esquecendo o que fica para trás, lanço-me para a frente» (Fil 3,13). Quando pressente a morte, convida-nos a partilhar a sua alegria: «Alegrai-vos e congratulai-vos comigo» (Fil 2,18). Rodeado de perigos, injúrias e todo o tipo de opróbrio, alegra-se e escreve aos Coríntios: «Alegro-me nas minhas fraquezas, nas afrontas, nas adversidades» (2 Cor 12,10). Para Paulo, uma só coisa era de temer e evitar: ofender a Deus. Do mesmo modo, nada o atraía senão agradar a Deus, nada, nem mesmo os bens do Céu, o que mostra o ardor do seu amor a Cristo […]. Eram estas as suas disposições quando pedia para ser excluído da glória do Céu para salvar os judeus, que tinham rejeitado a salvação (cf Rm 9,3), provando assim a dor que sentia pela perda dos seus; de facto, se tal perda não fosse tão dolorosa para ele, não teria feito semelhante pedido, mas consideraria a escolha mais tolerável e mais consoladora. E não se trata de uma simples declaração de intenções, mas de um verdadeiro grito do seu coração: «Sinto uma grande tristeza e uma dor contínua no meu coração» (Rm 9,2). É verdadeiramente sem igual, este homem que sofre pelo mundo inteiro.