“Jesus perguntou aos discípulos: “Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?” Eles sentiram um grande medo e diziam uns aos outros: “Quem é este, a quem até o vento e o mar obedecem?” (Mc 4, 40-41).
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
(Mc 4, 35-41)
Naquele dia, ao cair da tarde, Jesus disse a seus discípulos: “Vamos para a outra margem!” Eles despediram a multidão e levaram Jesus consigo, assim como estava na barca. Havia ainda outras barcas com ele. Começou a soprar uma ventania muito forte e as ondas se lançavam dentro da barca, de modo que a barca já começava a se encher. Jesus estava na parte de trás, dormindo sobre um travesseiro. Os discípulos o acordaram e disseram: “Mestre, estamos perecendo e tu não te importas?” Ele se levantou e ordenou ao vento e ao mar: “Silêncio! Cala-te!” O vento cessou e houve uma grande calmaria. Então Jesus perguntou aos discípulos: “Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?” Eles sentiram um grande medo e diziam uns aos outros: “Quem é este, a quem até o vento e o mar obedecem?”
No Evangelho de hoje, Jesus estava dormindo na parte de trás de um barco quando foi acordado pelos seus discípulos, que, apavorados com a tempestade, perguntaram: “Mestre, estamos perecendo, e tu não te importas?” (Mc 4, 35-41). Então, Cristo acalmou a tempestade e repreendeu-os pela falta de fé.
Há um grande drama de fé nessa súplica ardente dos discípulos, e percebemos que essa mesma pergunta foi repetida pela humanidade inteira ao longo de toda a sua história e pela própria Igreja nos momentos de perseguição. Pense-se, por exemplo, nos cristãos perseguidos no Oriente Médio, na África e até nas sociedades ocidentais, e surgirá a pergunta: por que Jesus parece “dormir” enquanto o mal triunfa?
Ricardo de São Vítor, um grande comentarista da Bíblia, responde a essa pergunta em seu comentário ao Apocalipse, onde ele nota que, em certo momento, Deus cessou os desastres e as perseguições. Então, ele faz a pergunta óbvia: se Deus tinha poder para parar naquele momento as perseguições, por que Ele não o fez antes? Se Jesus tinha poder para parar a tempestade, por que Ele não parou antes? E se Deus tem poder para fazer cessar a crise da Igreja, as perseguições e o martírio, por que Ele nada faz?
A resposta de Ricardo de São Vitor é muito clara: Deus quer fazer com que se manifeste, até a sua verdade mais desnuda, a impiedade dos maus, e, ao mesmo tempo, que se manifestem a bondade, a virtude e o amor dos bons, sobretudo a confiança em Deus. Aqui, então, devemos fazer o nosso exame de consciência: de que lado estamos? Do lado dos ímpios ou do lado dos justos e bons? É importante pensar nisso, porque São Paulo nos recorda que absolutamente tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus, inclusive as desgraças.
Se amamos a Deus e estamos em estado de graça, não importa o que acontecerá: das maiores tempestades irá resultar algo bom e positivo. Mas a pergunta é: somos realmente amigos de Deus? Se sim, então devemos continuar a exercitar a nossa fé e a nossa confiança. Agora, se não podemos responder a isso com tranquilidade, é necessário procurarmos o confessionário com urgência.
O importante é que, uma vez que estivermos em estado de graça, tenhamos uma fé confiante e inabalável como a de Nossa Senhora. O episódio da tempestade no lago é simplesmente um prenúncio de uma tempestade muito maior que virá: a tempestade da Sexta-feira Santa, quando, definitivamente, a fé dos discípulos e de todos irá naufragar, exceto a de uma pessoa: a Virgem Maria.
Nossa Senhora continuou crendo, por isso ela é nosso modelo fundamental para que, nesses momentos de crise, procuremos refúgio debaixo de seu manto sagrado e peçamos a ela que fortifique a nossa fé. Não façamos como os discípulos, que vacilaram no meio da tempestade quando ainda não possuíam fé, mas exercitemos uma fé inabalável, para que, como discípulos amados, possamos passar pela tempestade do Sábado Santo para enfim triunfar na alegria da Ressurreição no domingo de manhã.
Via: padrepauloricardo.org