«O que sai do homem é que o torna impuro»

São Gregório Magno (c. 540-604) papa, doutor da Igreja
Escritos morais sobre Job, Livro XII, SC 212

«Quem concebe o mal gera a iniquidade e nutre no seu seio o desengano» (Job 15,35), esse concebe os seus artifícios dolorosos quando medita nas suas perversidades, e dá à luz a iniquidade quando começa a fazer o que planeou. É na inveja que concebe as suas dolorosas artimanhas; e na calúnia dá à luz a iniquidade. Iniquidade ainda mais pesada quando um pervertido empreende mostrar que os pervertidos são os outros, a fim de parecer um santo, mostrando que os outros não o são. Convém saber que, na Sagrada Escritura, a palavra «seio» ou «entranhas» designa geralmente o espírito ou a alma. Daí as palavras de Salomão: «O espírito do homem é lâmpada do Senhor, que penetra todos os recônditos do ser» (Pr 20,27). De facto, é a luz da graça, que vem do alto, que traz ao homem o sopro que dá vida. Quando se diz que esta luz penetra todos os recônditos do ser, é porque ela penetra as regiões ocultas do espírito, de modo que os aspetos da sua vida interior que a alma não conseguia ver lhe são postos diante dos seus olhos para serem chorados. Daí as palavras de Jeremias: «Ai, as minhas entranhas e o meu peito!». E para esclarecer o que queria dizer com as entranhas, acrescenta: «O meu coração está em sobressaltos!» (Jr 4,19). Por isso, a palavra «seio» pode designar o espírito, porque, se as crianças são concebidas no seio, os pensamentos são gerados no espírito; e se os alimentos estão contidos nas entranhas, os pensamentos estão contidos no espírito.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *